Além das Sombras

Ó, eu, alma errante em breves dias passados,

Pelas sendas do tempo em passos adiante.

Em mim, o fado, nas veias derramado,

Vivendo em desvelo, triste e errante.

Eu, ser fugaz, qual orvalho na alvorada,

Transponho o ermo caminho, obscurecido.

Com pensamentos soturnos, à margem da estrada,

O coração pesado, o olhar entristecido.

Ah, eu, que vagabundo pelos dias nublados,

Empunho as lembranças em memórias borradas.

Deixei para trás castelos desmoronados,

Onde a esperança jaz, sepultada.

Eu, labirinto de sonhos e utopias,

Envolto em véus de angústia e melancolia.

Perdido em tempestades, sem rebeldias,

Sigo a trilha da vida, minha eterna agonia.

Ergo a minha voz, mesmo que em silêncio,

Em versos arcaicos, pautados no sofrimento.

Eu, átomo de pó, frágil e imenso,

Em meu âmago, escondo o meu tormento.

Eu, aquarela desbotada pelo tempo,

Teço rimas ancestrais, num canto derradeiro.

Lágrimas e sorrisos, no tecido macio do pensamento,

Entrelaçam-se na tapeçaria do meu ser verdadeiro.

Ó, eu, verso antigo em página esquecida,

Resgato-te do olvido e dou-te vida.

Na tinta envelhecida, minha história sofrida,

Canto ao mundo meu destino, minha lida.