SEM TEMPO

Estamos ao vento,

Perseguindo o tempo,

Solucionando os contratempos,

E as demandas que não param de chegar,

Parar e descansar, parece cada vez mais um luxo,

Fortalecer conexões, uma via distante,

Criar laços, só quando forem resolvidos os embaraços,

Mais trabalho, menos tempo,

Precisamos vencer...

Parece uma mistura de “não aguento mais”,

Misturada com “preciso dar conta”,

Um contínuo ter que dar conta por dez,

Enquanto os nove a volta, são uma contracorrente da produção,

De repente, é natal, e um pouco mais de tempo, outro natal,

A vida não está escorrendo entre os dedos,

A vida hoje foge feito enxurrada,

E nas faces o esgotamento físico e mental,

Todos presos na correnteza tentando encontrar equilíbrio,

Enquanto isso, mais demandas e menos tempo...

Seria um talento se deixar se levar pela correnteza?

Seria um alento não pensar, apenas sobreviver?

Como remediar o que ainda não conhecemos o remédio?

Como desacelerar se o tempo vai cada vez mais veloz?

Como não se cobrar mesmo fazendo um trabalho atroz?

O que é paz, lazer, descanso e desconexão?

Quando além das cobranças cruéis do mundo,

Nós, mesmo ultrapassando muitos limites,

Às vezes, pensamos não ser o suficiente,

O sol brilha, as flores florescem, o mar tem suas ondas,

E nós corremos passando por tudo isso, sem tempo para admirar,

Mas no fim, isso tudo é por qual motivo?

Mas por outro lado, há alternativa?

Fazemos, fazemos e fazemos, e o mundo pede mais!

Será que um dia encontraremos o equilíbrio entre o caos e paz?

Apenas sente e respire, enquanto mais dez demandas se acumulam...

No fim, só nós podemos decidir,

O que vale a pena, quais lutas lutar, o que abdicar,

Quais caminhos seguir para que no fim tenha valido a pena,

Enquanto isso, seguimos ao vento,

Perseguindo o tempo,

Solucionando os contratempos,

E as demandas que não param de chegar...

E certo de que precisamos trabalhar,

Assim como necessitamos descansar,

Para não colapsar,

Para não se abandonar,

Então teremos que ser mais criativos que o sistema corroído,

Que cria os aflitos e conduz a um labirinto a lucidez,

E o tempo cada vez mais perde sua liquidez,

E a falta desse tempo se torna uma dívida que não se pode pagar,

Mas ao fim, nos esbarramos sempre em um diálogo aporético,

E a resposta de cada pergunta parece sofrer um veto,

Criando versos nada poético,

E uma resposta padrão não podemos encontrar,

Pois na loucura do mundo atual,

Não deixar morrer seu “eu” natural,

É como uma alegoria de carnaval,

Um belo resultado que esconde um grande trabalho,

Quem sabe, o tempo seja uma grande avenida,

E enquanto ele passa feito enxurrada,

Devemos seguir sambando para o show continuar,

Mas é fato que estamos exaustos,

E precisamos descansar,

Desconectar,

Para termos êxito em continuar.