HERÓIS ANÔNIMOS

Não cultuem heróis

De capa e revista!

Na sua briga

Pelo pão

De cada dia,

Queridos irmãos,

Essa falsa alegoria

Dos artistas que idolatram,

Não te enchem a barriga .

Podem até aplaudir

Sem estardalhaço

Seu artistIsta preferido!

Só isso, nada mais!

O querido

Das crianças e até adultos,

O super- homem,

Com sua rubra capa,

O olhar atento não escapa

Aos adultos

E as crianças na euforia

De verem na telona surgir.

O super-herói preferido

Da capa vermelha ,

Ou da capa preta, que semelha

Um morcego em ação!

A cena,

Na tela do cinema,

Transborda alegria

A tantos, envoltos na folia,

Mas não mata a fome,

Caros irmãos!

Outos tidos por heróis de capa e revista ,

Que à primeira vista,

Parece serem fofos, bibelós de fino trato,

São na verdade,

O fiel retrato

Da hipocrisia

E falsidade :

Por fora, túmulo caiado;

Por dentro, podridão e aniquidade

Por todo obscuro lado!

Ja vi , de que cepa são formados

0s badalados , festejados

Heróis, pela midia incensados.

Tais relevos, que os vestem

Com o manto de probos,

Nâo os credeciam a fugirem

Ao que no íntimo são:

Falsários , cuja máscara desnudada

Reflete a imagem fidedigna

De rematados embusteiros ,

Fraudadores da ordem constitucional

Por eles conspuscada.

De santos se travestem ,

De super-heróis se vestem:

Capa e vestimenta de paladinos

Da Justiça -- cínicos, volúveis , cretinos,

Fingem combate férreo

À corrupção, no entanto,

Vestem a roupa de bandidos,

Na lama se corrompem,

Indignamente rompem

O princípio de imparcialidade,

Quando utilizam a Justiça

Para auferirem lucros pessoais,

0u como arma persecutória

Contra alguém

A quem o tem por inimigo.

Heróis de verdade, anônimos,

Cujos atos de bravura

A cada instante sobressaem

São os pobres trabalhadores

Que bem cedo,

Sem terem da labuta medo,

De suas casas saem

Para o trampo de cada dia...!

O Pedro, a Fernanda, a Raimunda,

O Raimundo, a Joana,,

0 Anastácio, o João!

Todos na labuta, faça sol ou faça chuva...

Suor no rosto,

Sem reclamar da amargura,

Do desgosto

Da estafante jornada nos ônibus lotados

Para ao trabalho chegar,

Lá vai dona Maria !

Com o parco salário que ganha,

Se desdobra,

Sofre, da vida apanha,

Mas não se queixa

Quando o filho pequeno lhe cobra

O pão.

De comer deixa

A pobre,

Humilde mulher,

Para o pequerrucho alimentar!

É essa, a heroína anônima a quem

Me culvo e aplaudo , alguém

Que muitas vezes vi chorar,

Sem perder a ternura !

Heróis não concebidos

Pela idolatria nomeio,

Sem capas, sem enfeitos, sem excessos,

Sem recheios,

Os que não vieram de portentosos meios,

Das camadas mais abastadas

Da sociedade,

Mas são exemplos de edificação,

De dignidade,

Sinônimo de profícuo labor:

O pedreiro ,

O encanador,

O eletricista,

O ferreiro,

O frentista

( Atencioso, dedicado) ,

A enfermeira, o enfermeiro ,

A empreda doméstica,

A cozinheira, o cozinheiro,

O verdureiro, o quitandeiro,

O padeiro, o gari, o motorista,

O vendedor abulante,

O jardineiro, o balconista ,

O ajudante

De pedreiro,

Toda essa laboriosa gente,

É indispensável, é importante,

Para cadeia trabalhista,

Heróis anonimos

Que impulcionam o progresso

Do país com esforço redobrado

E marcas profundas, no rosto vincado!