INDOMÁVEL

Transita a vida pelo tempo,

passam as pessoas apressadas,

aprisionadas nos desejos,

liquefeitas nas metas - impulsos

e nos tique-taques dos relógios

presos nos seus pulsos.

Blim, blem! Bléimmmm! blom!

Badalam os sinos no alto da catedral,

alertando a cidade, bem cedinho,

para a nossa efemeridade.

Galopa solto o tempo

na garupa do vento.

O tempo que é livre,

carrasco indomável

Crava em cada passo

o brasão da sua face.

Atravessa os quatro cantos

redondos do mundo,

entre brisas e vendavais,

em diálogo constante

com a destemida realidade.

Entre sorrisos, assovios e ais,

segue o vento o seu destino

[a carregar o tempo]

anunciando as suas façanhas.

Ao final da tarde

invade a boca da noite

e percorre as suas entranhas.

Prossegue o tempo no seu galope,

voeja nas madrugadas,

profetiza sonhos,

desejos de mais um gole

e apaixonadas serenatas.

Aos primeiros raios da aurora

atiça os galos em seus terreiros,

que com seus cânticos

anunciam um novo amanhecer

que novamente passará.

Em cada varanda a vida passa

e continuará a ser miscível,

perecível e bela,

no fluxo infindável do tempo.