não vou me desculpar por ser eu

eu quero ser sincera.

eu sempre vou ser sincera.

a sinceridade tem sido a minha maior virtude,

mas também o meu pior defeito.

mas eu vou ser sincera.

contigo e comigo.

eu tô só o bagaço da laranja.

exausta, indisposta, com dor nas costas.

olheiras resultantes de noites e noites insones.

abatida e desanimada de tudo.

os dias têm sido tão repetitivos e iguais.

uma letargia sem fim.

eu ando cansada demais.

eu tenho me sentido muito frenética em alguns momentos,

mas em outros eu sou lerda para as coisas mais simples.

sabe, às vezes tenho a sensação de que enlouqueci.

que perdi mesmo a cabeça.

os dias continuam com a sua rotina

e eu vou dando um jeito de ir com eles.

como se me deixasse levar pela correnteza.

eu tenho sido chamada de forte durante tanto tempo.

confesso que cheguei a acreditar mesmo nisso.

que eu era uma força da natureza.

você percebe que me chamam de forte

todavia, esquecem que sou de carne e osso?

acham que por ser durona,

eu aguento qualquer coisa,

(eu tenho aguentado muita coisa mesmo,

pois a vida não tem sido boa comigo),

mas estou cansada de lutar.

eu não quero mais ter que fugir de mim.

eu não quero mais ter que fugir de você.

eu não quero mais ter que fingir,

sorrindo,

que eu sou inquebrável.

desde quando ser rocha é não cair?

eu estou quebrada.

desde que me lembro, eu estou só os cacos.

a verdade é que aprendi fingir muito bem que estou inteira.

sou uma ótima atriz.

você me ver sorrindo,

mas não percebe que o brilho em meus olhos castanhos

há muito tempo se apagou?

conhecer o caminho das pedras não me isenta que,

em alguns tropeços,

me estabaque com a cara no chão.

e tá tudo bem.

tudo bem errar.

tudo bem querer consertar.

me deito na cama e fecho os olhos

canto uma canção de ninar com meus fantasmas de estimação.

eu fico alternando entre ser tão boa

e tão péssima nessa coisa de viver.

eu não aprendi a viver.

mas será que alguém aprendeu?

(se alguém sabe, faça um tutorial para os perdidos como eu).

em minhas noites insones,

eu lembro do barulho das ondas.

o mar tem o poder de me acalmar.

você me acha linda,

mas não ver o meu interior.

se me visse de verdade,

se olhasse quem eu realmente sou,

será se bancaria o elogio?

eu amo a minha solidão.

mas também preciso de um abraço,

de colo, de porre, de convite,

de cafuné, de ajuda, de norte,

de bússola, de fé.

às vezes.

sou uma pessoa difícil.

sempre achei que era parte da minha personalidade tão forte.

só que não tenho certeza.

acho que sou apenas alguém pedante e irritante.

que expressa suas opiniões fortes com uma teimosia aguda.

(ninguém quer saber o que pensa, menina).

que faz revoluções sem causa.

que fica em lugares que não te cabe mais.

que não sabe o que está fazendo da própria vida.

(duvido se alguém sabe).

comigo ninguém pode

ou eu é que não posso com ninguém?

difícil saber.

às vezes quando falo de desmoronar,

penso que devo deixar para lá.

afinal, a vida adulta não para

porque quero chorar sozinha no meu quarto.

eu nunca vi a tristeza passar

sem ser sentida intensamente.

as feridas não cicatrizam se você não estancá-las.

a minha tristeza tem sido minha companheira mais fiel.

todos passam por mim, mas ela fica.

você se foi, mas ela me abraçou na sua ausência.

por isso escrevo.

a poesia não é o meu mundo,

mas é tudo o que tem feito do mundo um lugar bom para mim.

eu tenho poemas em meu olhar.

mas o mundo é cruel com sonhadores.

a poesia é o meu meio de sobreviver,

sobretudo em meus dias mais sombrios.

criar versos para expressar minha solidão.

a vida não é artística.

porque sobreviver dói e arranca lágrimas e sangue.

contudo, as palavras têm a dose certa de me acalentar.

não se iluda,

eu não estou perdendo a contenda.

eu só preciso de um tempo para me curar.

eu só tenho que me restaurar.

assim, quando eu for ao front de batalha,

eu ganharei a guerra.

e a cura só começa quando dizemos nossas verdades.

eu estou de peito aberto,

escancarando o meu lado mais feio,

mais sombrio,

mais quebrado.

estou demonstrando o que sinto,

sem amarras ou meias palavras.

consegue fazer o mesmo?

ou é só você que não consegue bancar o que está sentindo?

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 27/05/2021
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