Muito

Sempre muito:

se for para amar,

ame muito.

Se for para ser soturno,

seja muito.

Se for para exaltar o bem de alguém,

exalte muito.

Para ser ridículo

nas renúncias e abandonos alheios,

seja muito, muito ridículo mesmo.

Seja muito na forma,

seja muito na forja,

muito no erro

e seja muito no ermo.

Se for para ter saudade,

tenha muito dessa palavra tão nossa,

dessa palavra tão dura.

Se for para ter coragem,

tenha.

E tenha muito medo também.

Se for para se importar,

se importe muito.

Se for para gostar de futebol e política,

goste muito e muito pouco se valem

em pedra de toque de religião.

A paisagem da montanha metafísica de Deus, a filosofia,

que suba,

suba muito: até o final.

Se for para desejar um filho,

deseje muito,

que muito de si vai ficar

neste muito da vida,

neste muito de nada.

Muito que somos

é o muito inverso

que deixamos de ser.