CANTO DE GUERRA
     
     Beijos as flores para inalar o seu perfume e esquecer os dias de tédios.
     O tempo é o tic-tac de vida ou morte, vizinhos de todos os seres humanos, caminhos que não garantem a sorte.
     Os laços são estreitos ao confinamento, os leitos são agrupados em acampamentos, as alegrias são revertidas em lutos e lágrimas são derramadas nos concretos e tijolos puros.
     Os sorrisos não escondem as tristezas e o país paralisa com tanta pobreza; de orgulho a realeza cai, a soberba dos desmascarados em meio à covardia escondida à luz do dia o reflexo da política mal elaborado.
     O socorro é ignorado por aqueles que não querem ser incomodados, fazem descasos dos mais idosos, na guerra dos soldados mais feridos. Abrem-se valas depositam corpos como se fossem lixos.
     Falta tudo para todos: dignidade, saúde, cidadania, direito e respeito.
     A generosidade move os de corações de carne, não há gênio da lâmpada achado em meio aos escombros, mas os céus são movidos pelos gestos de amor e simplicidade para salvar vidas.
     Há esperança para os desesperançados, há labirintos em nossas vidas que ainda não foram explorados, corrente do bem para libertar os que estão acorrentados ainda na miséria.
     Não há força maior do que a união de todos; transpassam barreiras inimagináveis e levam-nos a lugares mais longínquos do mundo.
     Que a falta do abraço seja mais sentido para percebermos que precisamos um do outro; que a necessidade nos permita a compartilharmos o pouco que temos para aqueles que nada têm.
     Que em todos os lares possam preencher o amor de Deus; a linguagem possa ser diferente dos dias anteriores: mansa e suave.
     As virtudes possam ser comentadas quando estiverem todos juntos, em jantar de família. Que as horas possam ser bem vindas mesmo quando ultrapassarem mais de quarenta dias.
     O sol ainda brilhe quando aparecerem nuvens escuras carregadas no céu. Que no silêncio possa escutar os gemidos dos ventos, as minhas indagações e respostas as minhas dúvidas.
     A natureza seja homenageada mesmo diante da maior catástrofe da humanidade. Os pássaros possam ser ouvidos enquanto o canto de guerra ainda é entoado.
     A vida seja celebrada em vida; o medo do desconhecido possa ser descoberto e exposto para todo o mundo, que o destruidor não possa ser maior que o Criador, e que a criatura seja mais agradecida.
     Que o medo não possa nos levar ao desespero; o livramento seja celebrado com muita honra, em cada leito haja esperança e abençoadas as mãos que sejam santas.
     Dentro de todos os corações partidos há um grito de cada um de nós, para que sigam em frente, rompendo com as barreiras que nos separam e construímos pontes da solidariedade que aliviem a dor do próximo nesse momento.
     Olhamos para outro como parte integrante também de nossas vidas, não como um ser socialmente isolado de tudo e de todos; quem sobreviver com certeza será uma nova criatura, que por um fio foi deixada aqui na terra, para nos dar exemplos de estórias, coragem e superação. Vamos vencer essa!
Celso Custódio
Enviado por Celso Custódio em 13/05/2020
Reeditado em 10/08/2020
Código do texto: T6946020
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