Choque de Realidade
Muros separam de nós, os abastados
Segregam em segredo subúrbios
Mantém-nos assim, todos afastados
Sequelam sem medos distúrbios
À sós, resta-nos crer em sortes
Pobres coitados, nada mais
À nós, assim, assíduos cortes
Nas mãos dos senhores feudais
Vender a alma ao diabo, tentação
Trocar o almoço pela janta,
Vender sempre fiado, quitação
Maligno o caroço na garganta
Do rico, um prato especial, iguaria
Todo requinte à mesa
Do pobre, um parto essencial, alergia
Toda rinite à obesa
Todo condomínio de novela
Todo extermínio na favela
Da periferia ao centro da cidade
Doeu-me o choque de realidade.