Círculo vicioso

Olhei a velha carroça quebrada

Embaixo da frondosa figueira

No quintal do meu avô.

Sua roda antiga de madeira

Tinha uma grande rachadura.

Perguntei a vovô, por qual motivo

Ela estava abandonada.

Ele me respondeu de maneira bem simples:

- “Filha, a roda é quem transmite

A força para o eixo.

Se ela está quebrada, a carroça não anda.”

Analisei sumariamente o conjunto

E observei que o eixo também havia se quebrado.

Pedi a vovô para colocarmos a carroça de pé.

A cada giro, a madeira apodrecida da roda

Se quebrava,

E o eixo estalava a cada tentativa.

Eu insistia em fazer a carroça andar;

Vovô olhava pra mim e sorria.

Quanto mais eu empurrava, mais ela se quebrava.

Vovô colocou a mão suavemente em meus ombros e disse:

- “Minha filha, não adianta empurrar a carroça.

Quanto mais você empurrar, mais quebrada ela estará.

Tanto a roda como o eixo se quebraram...

É necessário consertá-los.”

Observei nesta situação simples

Que apesar de vovô trabalhar com isso,

A esta carroça ele não conseguiu arrumar.

Talvez ele não pudesse, afinal de contas

Os anos a deixaram assim.

Ou talvez ela tenha sofrido

Intempéries demais por sua própria causa.

Enfim, não sei.

Só sei que o círculo vicioso dessa carroça,

Quebra roda-quebra eixo-não anda

Continua num loop infinito,

Sob a sombra da figueira

Até que alguém a conserte,

Pois o tempo, não o fará.