Engasgado

Senti as palavras pararem como num engarrafamento;
Ficaram estancadas no gargalo.
O tempo não corria. Apenas plainava no ar.
Foi doído sentir a aspereza dos teus contornos.
Imbuído de sentido relevei.
Sim. Ignorei sua atitude arrogante de ser.
Ela aparecia entre as aspas de suas palavras.
O tempo era senhor do meu rancor.
E eu subjugava minha compreensão.
Foi num hiato de tempo que compreendi você.
Estava lá por qualquer coisa, menos por querer.
E eu não entendia o porquê daquele comportamento,
Justo eu que julgava entender tudo.
Ignorância?
Digo que não. Talvez amor.
O tempo é senhor dos destinos.
Ele deixa passar o que é importante.
Trava o que é engastalho. Eu diria: engasgado.
Fiquei entalhado no tempo que tinha dentro de mim.
Parecia eterno e foi.
Hoje é passado e é.
Engasgo mesmo é com meus pensamentos.
Foram instantes de eternidade em meio a flashes de momento.
Eu, inocente acreditei.
Pensei que o tempo não passaria pela peneira dos julgamentos mundanos.
Inocência?
Digo que não. Talvez estupidez.
Quebrei a ampulheta do armário.
Ela trazia recordações temporais.
Hoje vivo do atemporal.
Sim. Momentos são únicos.
Eles dizem mais de mim.
Um ser em eterna construção do que se deve ser.
Serei eu um dia?
Digo que sim. Já sou em algum lugar deste mundo.
Uma voz pergunta: por que escreves sobre isso?
Faço de desentendido.  Pergunto: sobre o tempo?
_ Não! Sobre o que lhe dói.
Eu respondo: porque não quero que doa mais.
Recebo uma feição negativa.
Digo que o passado não corrompe mais o presente.
Fecho o livro.
Tudo ficou para trás.