Mistério de superfície.
Minha tristeza é mais profunda.
Como pode alguém costurar uma estética
Entre Marx, Rousseau e Nietzsche?
Quisera eu costurar algo assim,
E desse manto, de trama fechadinha,
Pudesse fazer rede, uma rede atada entre
As mangueiras do quintal, sempre em vai e vem.
Entendo os outros mas não sei fazer
De mim coisa que eu entenda,
Ou barco aportado.
Não acho minha calma,
Nem sigo minha inquietude.
Minha tristeza é mais profunda.
Não consigo criar um conceito estético
E caminhar sobre ele.
Não sou criador. Dentro de mim só crio merda.
Nunca tenho o que quero...
Tenho as sombras, as sobras e os solavancos.
Não corro em tangentes placidas.
O meu terreno é pantanoso,
Cheio de montanhas no horizonte.
Imerso na água, miro o cume,
O topo que nunca chega.
A montanha é meu sonho.
Minha tristeza é mais profunda.
Talvez o problema seja essa romantização de tudo,
Um Byronismo latente, um resquício de livros
Antigos e amores perdidos.
E nesse caso, a tristeza não tem profundidade,
É apenas uma coisa de superfície,
Uma estética mal formulada. Será?
Minha tristeza é mais profunda?"