Mistério de superfície.

Minha tristeza é mais profunda.

Como pode alguém costurar uma estética

Entre Marx, Rousseau e Nietzsche?

Quisera eu costurar algo assim,

E desse manto, de trama fechadinha,

Pudesse fazer rede, uma rede atada entre

As mangueiras do quintal, sempre em vai e vem.

Entendo os outros mas não sei fazer

De mim coisa que eu entenda,

Ou barco aportado.

Não acho minha calma,

Nem sigo minha inquietude.

Minha tristeza é mais profunda.

Não consigo criar um conceito estético

E caminhar sobre ele.

Não sou criador. Dentro de mim só crio merda.

Nunca tenho o que quero...

Tenho as sombras, as sobras e os solavancos.

Não corro em tangentes placidas.

O meu terreno é pantanoso,

Cheio de montanhas no horizonte.

Imerso na água, miro o cume,

O topo que nunca chega.

A montanha é meu sonho.

Minha tristeza é mais profunda.

Talvez o problema seja essa romantização de tudo,

Um Byronismo latente, um resquício de livros

Antigos e amores perdidos.

E nesse caso, a tristeza não tem profundidade,

É apenas uma coisa de superfície,

Uma estética mal formulada. Será?

Minha tristeza é mais profunda?"

Fabiano Stopassolli
Enviado por Fabiano Stopassolli em 25/04/2019
Reeditado em 27/04/2024
Código do texto: T6632267
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.