Ausência de inspiração

O poeta sofre.
Sente a ausência da inspiração.
Talvez o que provocava a poesia
Não é mais propulsão, somente sensação.
 
São as dores inenarráveis
Que sufocam o peito dilacerado.
Não havendo dor de amor
Sobra o papel sem traços.
 
A ausência de inspiração não confirma a morte do poeta.
Não é seu atestado de óbito em plena ação.
Sua ausência é sintoma bem-vindo.
É sinal de produção de sentido.
 
E não pense o poeta que engana,
A alma com lampejos de coesão.
O sangue que borbulha em suas veias,
Aguarda a próxima explosão de emoção.
 
E então novos versos nascerão.
Fortes e enraizados na alma aflita.
E ali estará o papel e a tinta
Aguardando a transformação...
 
Não haverá mais ausência e sim um poeta em essência.
Haverá um poema dando voz a enlouquecida razão.