Movediça

Sigo, assistindo a rotina se apoderar da sensibilidade

e rasgar o carinho em pedacinhos insignificantes.

Atônita e anestesiada.

Não consigo sentir.

Transbordo.

Afogo-me naquilo que me move...incapaz de ser translúcida, como queria.

Vem você e, junto, as lágrimas de brinde.

Sempre, desde então...

As que me contam do que não foi decifrado

e das interpretações que causaram distâncias.

No meio da tarde, o torpor me segura pela mão e arranca meus sonhos pra levar consigo...

Atravesso sem olhar: a rua, o tempo, as certezas...

Do outro lado, o que me espera está nas sombras,

quieto e calado, denso e frio.

Conheço o trajeto e essas esquinas aterradoras

nas quais vazios inteiros esperam meus despojos.

Fragmentos do que fomos surgem,

iluminando a noite cruel

em que a nudez da alma sobrepuja a da pele, branca, exposta e frágil...

Quisera o tempo que me foi negado

para decifrar enigmas e alcançar os delírios que a mente tramou,

transformando-os, um a um,

na materialidade do sonho que sonhamos,

enquanto trocamos afetos.

Lyzzi
Enviado por Lyzzi em 26/12/2018
Código do texto: T6535917
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