Movediça
Sigo, assistindo a rotina se apoderar da sensibilidade
e rasgar o carinho em pedacinhos insignificantes.
Atônita e anestesiada.
Não consigo sentir.
Transbordo.
Afogo-me naquilo que me move...incapaz de ser translúcida, como queria.
Vem você e, junto, as lágrimas de brinde.
Sempre, desde então...
As que me contam do que não foi decifrado
e das interpretações que causaram distâncias.
No meio da tarde, o torpor me segura pela mão e arranca meus sonhos pra levar consigo...
Atravesso sem olhar: a rua, o tempo, as certezas...
Do outro lado, o que me espera está nas sombras,
quieto e calado, denso e frio.
Conheço o trajeto e essas esquinas aterradoras
nas quais vazios inteiros esperam meus despojos.
Fragmentos do que fomos surgem,
iluminando a noite cruel
em que a nudez da alma sobrepuja a da pele, branca, exposta e frágil...
Quisera o tempo que me foi negado
para decifrar enigmas e alcançar os delírios que a mente tramou,
transformando-os, um a um,
na materialidade do sonho que sonhamos,
enquanto trocamos afetos.