Das ausências

 
O vazio deixado sem as suas palavras
Martela a mente povoada por fantasmas.
Dilata os poros em sangue
Arde as vistas com o sal das lágrimas.
 
Ausência é presença dispensável
Como se dispensa o que não é amor.
As marcas deixadas na alma
Choram as distâncias interpostas
E assim nasce a suposta dor.
 
Se o tempo fosse aliado
Saltaria segundos, horas e dias.
Deixaria o passado sem olhar para trás
E conduziria o corpo exausto de lutar
A verdes colinas ou mesmo ao mar.
 
As ausências diminuiriam
Devolvendo o sorriso onde ora houve choro.
E o vazio emudecedor
Daria espaço para novas poesias.
 
E sem perceber a penosa mudança
Abriria o peito para acolher palavras doces.
Sabendo que novas ausências o espreitam
Sem lhe tirar o gosto bom de viver.
 
O que seria da vida sem esses vazios?
Como seria uma alma edificada sem dor?
Seria ela capaz de sensibilidade?
Seria ela capaz do amor?
 
Não!
É nas ausências que se é.
É no vazio que se ganha um nome.
São as ausências ancoradas em meu peito
Que me fazem porto seguro de mim mesmo.