Divisor de águas

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Quando o peito range no silêncio
O que sobra é o choro entalado na garganta.
Não se luta em vão neste momento,
Apenas se descobre frágil, sem ação.

Muitos dizem que isto é amor
Eu chamaria de divisor de águas.
É quando se deixa de lado a criança
Isenta de dor, afagada no colo acolhedor
E no espelho vê-se o adulto que arde em chamas
Impelido pela dúvida de ser quem é.

Ah choro meu, choro seu. 
Que não tem hora de arrombar o peito.
Derrube a certeza de que sou apenas meu.
Lance-me na angústia de viver.

E se a dor for divisor de águas
Que eu nade para o fundo meu,
Ali onde ainda sou menino
Mesmo tendo barba e dívidas com meu eu.

Assim não negarei as amarras
Que me impus diante do seu eu.
Não terei noites em claro
Nem garganta segurando o choro que doeu.