A música a se calar onde não é querida

Sim, o discurso do poder pode ser aclamado por mil multidões.

E seus andarilhos em peregrinação e suas pedras na cabeça!

Ainda assim, nego-me a curvar-me, a carregar seus falseados

fardos de delícias.

Mais encantadora e envolvente é a vociferação dos estarrecidos,

da indignação endoidada, das marchas dos saqueados!

O discurso embelezado dos que se revestem de hipocrisia

pode comover mil adeptos, alucinar corações.

Mas meu peito permanece impenetrável!

Os aplausos quase abalaram o chão diante do furor!

Os suores, os rostos animados se contorceram,

cabeças balançando positivamente

quase que me disseram: ''Nadamos de acordo com a corrente''.

Seguir o ritmo das andanças com tantas vozes favoráveis

é como seguir o ritmo de uma vida com tantos gritos sufocáveis...

Eles tiverem uma voz, mas mais cômodo seria corrompê-la...

Em nome santo da paz forjada, da paz maquilada,

da inebriante paz dos que seguem o vento do norte...

Sempre em frente, dirão: ''Oh, seduza-nos, Grande Rei''.

Agora, pergunto-lhes: que tamanho prazer é este capaz de deturpá-los?

Eles entorpeceram-nos, e seus súditos repetiram as mesmas ladainhas...

Agora, minha visão é nítida como um cristal...

Vejo-os cobertos de joias e promessas,

vejo-os pobremente adormecidos, elegantemente mudos.

E suas vozes clamadas com furor...

tão inaudíveis quanto um sussurro tímido!

Rangel Sá Lima
Enviado por Rangel Sá Lima em 29/04/2018
Reeditado em 29/04/2018
Código do texto: T6321903
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