Dia (Binho)
 
E esse propósito social?
De todos serem politicamente corretos.
De não pagarem o mal com o mal?
De serem bons por natureza.
 
Onde mora a bondade?
Não estaria o mundo como está
Devido à falta de personalidade?
De tentar ser o que não é?
 
A falsidade toma os quatro cantos da vida.
Sorri-se com afeto, apunhalando a faca da discórdia.
Posta-se foto com sorriso aberto,
E no quarto, sozinho reina o incorreto.
 
Solte o diabinho que há em você.
Confronte-se com a sua sombra imaginavelmente oculta.
Sua dor é pura angústia,
De tentar ser bom, sem nenhuma culpa.
 
Desista, pobre diabo em construção.
Você só será bom, se entender o coração.
Que almeja o céu com glórias,
Sem abrir mão de suas vitórias.
 
E vencer, muitas vezes é ser cruel.
É dar conta da maldade do seu ser.
Não tampe o espelho que lhe revela
O diabo que habita em você.
 
Lide com tranquilidade.
Aceite o engano e a maldade.
E assim você será livre,
Para fazer escolhas de verdade.
 
E se a vontade de colocar a culpa em outros lhe rondar,
Desminta e com coragem venha afirmar,
Que o seu desejo mais íntimo é vivenciar
As maldades que o mundo não lhe quis dar.
 
Oh pequeno diabinho em construção.
Quanto mais o mal se nega, menos há conversão.
De status e vanglórias vive o homem
O resto é pura ilusão.
 
Desculpe-me se com esses versos lhe desapontei.
Não faço poemas com o coração.
A razão ocupa o espaço da alma
E ali, não cabe afeição.
 
Triste mesmo é não reconhecer-se diabólico.
É viver iludido como falso cristão.
Se até Cristo foi tentado interiormente,
Quem diria você, um pobretão.
 
Estou lidando com o mal que habita em mim.
Alimento-o de madrugada, na solidão.
Digo a ele que não venha disfarçado,
Mas que seja digno de dar-me uma solução.
 
Controlando o diabinho que há em mim
Vejo luz em meio à escuridão.
Serei melhor a cada dia que o enfrentar.
Serei consciente da minha podridão.
 
         F©
MCMLXXVIII