POEMA À LUZ DE VELA

Noite, e luz não há

Ficamos todos dependentes da energia que corre por ondas e fios

Inconscientes da que corre pela alma

Fico só com meus pensamentos

Na ausência de distrações, eles conseguem falar comigo

(...e eu anseio por elas)

Mas não há jeito. Luz elétrica não há

Eles falam comigo

Na árdua busca por fazer mais que pensar e ainda muito mais do que sentir,]

um tanto desesperadamente escrevo este poema

à luz de uma vela que mais me parece uma salvação.

Ouvirei os intrusos, então.

Eles dizem que aqui estou e aqui mesmo devo estar.

Embora eu quisesse estar em Paris ou em um balão no céu da Capadócia,]

aqui estou e é definitivo.

E sou quem eu sou, e disso até gosto,

embora eu quisesse estar na pele de outra pessoa porém sendo ainda eu - tal é o tamanho do ego, ou a perenidade da alma.

E ao me ouvirem, meus pensamentos dizem que eu gosto de dificultar as coisas.]

Eu discordo! (afinal eu sempre dificulto as coisas).

Por fim concordo, com uma ressalva porém:

eu não gosto de dificultar as coisas – eu somente as dificulto.

E prosseguimos na conversa. Ouço que está tudo bem.

Ofendo-me. Protesto veementemente. Nada está verdadeiramente bem.

Argumentam, mas não mais escuto, fechei-me e volto-me para mim.

Começo a me sentir melhor e é aí que percebo:

estão certos, tudo vai bem,

conquanto eu esteja comigo

conquanto eu não ouça o que está por fora

e às vezes nem mesmo tudo o que vai por dentro,

a depender da vibração do que por leviandade

eu tenha alojado nos escombros do meu ser.

E, instigada, agora eu procuro falar com eles

questiono-os como viver assim,

lacrada em relação a tudo que não sou eu.

Ouço um sussurro lá no fundo:

“Não se trata disso, mas em verdade,

segurar a própria mão é a única maneira de se estar seguro.

Estar firme com você é permitir-se abrir ainda mais que agora

pois o mundo não faz mal a quem vai acompanhado

de si mesmo, e só, e basta. Tudo o mais é acréscimo.

Só a sua luz é necessária, não a de fora, não a dos outros.

Me despeço. A luz elétrica que usavas para se esconder de si já voltou.

Retorne a ela. Permaneça com a sua”.

Já que há luz, olho para o espelho à minha frente,

vejo os meus olhos, por onde eu transpareço.

De onde fulgura um brilho mais encantador

que em qualquer dia de gala fora minha imagem.

Irrompo e me encontro em mim.

Enfim.

A Helena
Enviado por A Helena em 04/03/2018
Reeditado em 28/03/2018
Código do texto: T6270838
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