Ventos que formam
Fábio Costa

 
Tocam a alma inquieta.
Estremecem raízes profundas.
Direcionam o sentido do viver.
Ventos que formam o ser.
 
Plantado à beira do mar eu fui.
Cresci sentindo a brisa que refresca.
Haviam noites de tempestades e mar bravio.
Eram horas intermináveis na escuridão que amedrontava.
 
Ali, sucumbido pela ausência de luz,
Apegava-me ao chão inerte e duro.
Fincava raízes para não morrer.
Crescia na direção dos ventos que formam.
 
A batalha de anos foi vencida.
Me encontro frondoso, atrevido e com vida.
Sou feito de raízes provadas em noites frias.
Sou árvore formada por vento forte.
 
Não gostaria de outra direção, nem podia.
Fui plantado ali, na orla, por mãos divinas.
Aquele que me plantou sabia,
Das noites tempestuosas e ventos que eu enfrentaria.
 
Os olhos que me contemplam, percebem,
Quão difícil foi compor a guia.
Hoje a direção do vento me favorece.
Adaptei-me ao seu som, à sua força, ao que eu temia.
 
E se frondoso, hoje me encontro,
Não nego as batalhas vencidas.
Recordo cada manhã de brisa suave,
Quão tenebroso foi a noite que se finda.
 
Espero o sol que o dia trará.
Sei que sou forte através dos ventos que me formaram.
Se um dia minhas raízes com ventos voarem,
Morrerei ciente das batalhas que travei.
 
Foram ventos que me formaram,
Será um vento a me eternizar no além.

Photo:
Árvore formatada
Cabo de Santo Agostinho, 12/2017
By Fábio Costa