PAÍS DE PONTA CABEÇA
Agosto 2017
I
Estamos vivendo em um circo?
Ou é pura alucinação,
Ver aqui, tudo invertido,
Qual balaio de doido perdido
Num jogo de quebra-cabeças,
Viajando num trem-fantasma,
Repleto de assombração?!
Este Pais existe,
Na sua senda mais triste.
Não é delírio não!
Retrata fielmente,
Um quadro pintado
Por um gênio malvado
Que traçou na tela
Um borrão,
Grafando nos anais da história
Uma página tão infame,
Que jamais apagar-se-á da memória !
II
Tudo sucedeu numa tramoia golpista,
Arquitetada com requinte de maldade,
Planejada com o fito de impor
A agenda dos perdedores,
Tendo a ordem invertida,
Numa batalha perdida
O ano passado
Para o Congresso
Prenhe de congressista
Chafurdado no lodaçal,
Que subtraindo aos eleitores
Mais de 54 milhões de votos,
Deu o que não gosta seus lideres que se diga,
O golpe, depondo a presidente honesta,
Sem crime de responsabilidade.
III
O vento errante,
Que cruza horizontes,
Cordilheiras, riachos e montes,
Irado esbraveja:
-- Poeta, impunha que veja
Com os olhos da verdade,
A magnitude
Do que escrevera o gênio baiano
Rui Barbosa há tanto tempo,
Como se fora este ano:
“De tanto ver triunfar as nulidades,
De tanto ver prosperar a desonra,
De tanto ver crescer a injustiça,
De tanto ver agigantarem-se os poderes
Nas mãos dos maus,
O homem chega a desanimar da virtude,
A rir-se da honra,
A ter vergonha de ser honesto” .
IV
Que País é este, que veste a roupa do bandido?
Que mesmo não tendo querido
Manchar-se no lodo da podridão,
É cúmplice por ser omisso,
Não tendo zelado
Pelo seu mais nobre compromisso
Que é prover justiça e direito social
A todo o cidadão
Quando esse se vir em seu direito lesado.
A pergunta que não se cala,
Que resvala
Numa incoerência risível,
Requer, justificativa plausível:
Por que o STF não se predispôs
A julgar o mérito do impeachment
Sem crime de responsabilidade?
Por que não reverteu
A anormalidade
Que prostrou nossa querida terra
No seu mais lamentável estado --
“Republica bananeira”?
Mas o que se escutou pasmado,
É asneira sobre asneira,
Como se pudessem
Cobrir o céu com uma peneira,
Dizer que por aqui, tudo vai bem,
Que a economia saiu das cordas,
Que o País começa a entrar nos trilhos,
Que a inflação começou a cair também.
Ora, a quem se quer enganar?
Vivemos dias terríveis de recessão,
Ditada por um País quebrado,
Padecendo o desemprego
De quase 14 milhões de trabalhadores
Que por não terem o que gastar,
Por falta de dinheiro,
Estão em via de estenderem
A mão à mendicância...
V
O trem fantasma segue assombrando...
Assombrado e aumentando
A disparidade reinante,
Num massacrante
Dualismo
Que distancia ainda mais,
O pobre do rico.
Este último, a amealhar
As benesses que lhe propicia
Um governo montado
À feição do neoliberalismo.
VI
Aqui em Pindorama,
Paraiso da dinheirama
A correr solta nas mãos dos rentistas,
Do mercado financeiro,
Do capital estrangeiro,
Dos poderosos bancos,
Afirmam cinicamente, que as instituições
Estão em pleno funcionamento.
O cata-vento
Que semeia vento,
Colhendo tempestade,
Fulo de raiva abre questão:
-- Poeta, um momento!...
Em que mundo estás vivendo?
Nobre vate, deliras?
Já viste enterro de anão?
Cabeça de bacalhau?
Algum tucano engaiolado?
Faze-me rir, afirmação
Tão fora de lugar,
Que excede as raias do absurdo,
Insinuar que as instituições
Estão em pleno funcionamento
Num Pais maltratado
Por tão mau governante.
Caro, toma tento.
Para essa situação de tormento exacerbado,
Anátema cruel imposto à população
Que está padecendo
Os seus dias mais cruentos,
Ante um governo tão infame,
Que cambaleia agonizante,
Sangrando, até a exaustão,
Mas não larga o osso não!
Continuando, pergunto-te, estimado poeta,
Apelando para a inteligência tua:
Por que não Atentas para o timing?
É o timing que tudo direciona.
Levou o STF 8 meses para afastar
E enviar à Justiça curitibana
O presidente da Câmara dos Deputados
Pejado de delitos inconfessáveis.
Aguardou que ele, junto com sua turma,
Nada republicana,
Depusesse a Presidente eleita
Pela vontade popular,
Numa armação previamente encomendada,
Maquiavelicamente engendrada
No golpismo de ela ter cometido pedaladas.
VII
Na esteira da miserabilidade
Da trama urdida,
Como paga comum
À própria maldade:
Quem semeia vento,
Colhe tempestade.
Qual efeito dominó,
Enrolados no próprio nó,
Foi caindo um a um,
Os próceres do impeachment fraudulento.
Como bem vaticinara
A legítima Presidenta:
“Não ficaria pedra sobre pedra”.
Outros mais,
Do núcleo duro do governo usurpador,
A fila da cadeia os aguardava
A exemplo dos últimos enviados
Ao fosso prisional.
Noutra quadra, que excedeu
Os preceitos da razão --
Tessitura inédita até então,
O “Vice decorativo”, que está presidente,
Deparou com graves denúncias de corrupção,
Sendo denunciado
Pelo então
Procurador Geral da República,
Que confirmou ter trabalhado
“Ainda, em outras duas bombásticas
Investigações contra o traidor:
Uma de participação em organização
Criminosa e outra de obstrução da Justiça”.
Não bastando isso , como tributo
À sua perpetrada ação traiçoeira
Contra a lídima Presidente,
O traíra deveria provar
Do amargo fruto
Que ela provou.
O “topetudo” diferentemente
Do traidor
Não arrastou
Na correnteza da traição,
O que hoje está presidente,
Que entrou pelas portas do fundo,
E sairá, no lixo da história,
Qual cachorro enxotado!
XIII
Neste País das palmeiras verdejantes,
Das mais belas mulheres
Das madeixas esvoaçantes,
Das praias mais lindas,
Festejadas em todo o mundo,
Do povo mais bonito e hospitaleiro,
Do ufanismo de ser filho
Deste rincão altaneiro,
Porém em dissonância,
“As aves que aqui gorjeiam”,
Entristecidas já não cantam,
Choram, e os dolentes prantos,
Orvalham a madrugada,
Que soluçante extravasa sua mágoa:
Brasil, por que se deixou envolver,
Nas malhas perversas
De uma administração provinda
De um golpe de estado,
Que hoje massacra, castiga impiedosamente
Seu povo, com pacotes de maldades
Impostos à revelia,
Com a perversa Reforma Trabalhista
Aprovada no Senado,
Que rasgou a CLT,
Maior legado getulista
Com o beneplácito do deus mercado?!
Erigiram à injustiça um busto?
Ou a ordem do que é justo
Está invertida?
Foge ao que é compreensível,
A situação incrível
De um deputado
Bem chegado
Como unha e carne
Ao que hoje está presidente,
Ter sido flagrado
Correndo desembestado,
Mala em punho,
Recebendo gorda propina
De meio milhão de reais,
Ensejando que se cogite pensar
Que há algo de intrigante compreensão
Até para os afeitos aos deslindes judiciais,
Constatar que não deu em nada
A ação fraudulenta
Amparada por robustas provas
De ilícitos cometidos,
Onde esperava-se que a Corte
Maior do País, punir iria
O referido parlamentar
Nos rigores da lei.
Porém, monocraticamente
O Ministro do Supremo o que fez?
Ao falaz portador da mala agraciou
Com prisão domiciliar,
Livrando-o do regime fechado.
Não sei por qual sortilégio
Assim procedeu?
Creiamos que é difícil compreender
Quais as variantes que permeiam
A decisão de um Ministro do Supremo.
Não sei o que o move, a esse proceder...
Dirão os legalistas, que seja talvez,
Para evitar a hecatombe de uma delação
Que punha o Brasil mais vulnerável ainda.
IX
Existe à mão cheia, prova cabal
De tratamentos divergentes
A casos semelhantes,
Que nos faz desconfiar ser perseguição,
Ou preferência político-partidária.
O ocorrido testemunha, tratamento
Diferenciado, à situação similar.
No ano de 2015,
Senador líder do PT,
Acusado foi de obstrução da Justiça,
Tendo prisão decretada
E imediato afastamento
Do cargo, assim determinara
A Suprema Corte.
Foi sem mais delongas encarcerado,
E do cargo inapelavelmente afastado.
Dificuldade não houve,
Para pelo Senado ser cassado.
Na ordem de ponta cabeça que aqui vigora,
Não se entende nesta turbulenta hora
Por que as sentenças não são igualitárias
A depender do destinatário?
Outro senador de alta plumagem,
Personagem do mais fino trato dignitário,
Trajando roupagem
De bom mocinho,
Sempre blindado,
Pela Justiça – inalcançado,
Da mídia – o queridinho,
Viu-se de repente,
Ante seu maior inferno astral,
Apanhado numa arapuca
À qual ele bobamente se enredara,
Cujos destroços profundos
Danificaram bastante, sua já combalida imagem,
Pego no laço, por alguém mais esperto do que ele,
Que em delação premiada,
Amplamente pelo Jornal Nacional divulgada,
O acusou de propina de 2 milhões ter recebido,
E mais, uma mala de dinheiro entregue ao primo dele.
De repente, nada mais que de repente,
O então presidente do partido “tucanista”,
Numa reviravolta jamais por ele prevista,
Envolto, viu-se, no olho do furação,
Vendo o mundo de ponta cabeça
Desmoronar à sua volta,
Atingindo-o no mais sagrado –
A própria família, onde a irmã e o primo
Foram presos.
De imediato,
Aquele que galgara
Seu degrau mais alto,
Chegando quase
À Presidente da República,
Teve em seu costado,
Qual navio afundado
Um pedido de prisão formulado
Pela PGR, e em monocrática decisão,
Foi afastado do cargo de senador
Pelo Supremo Tribunal Federal.
Fora lançada a sorte.
Coubera aos deuses que compunham
A engrenagem
Que impulsiona
A roleta da Suprema Corte,
A deliberação
Do manuseio
Dos dados numéricos para realização
Do sorteio
Da escolha do Ministro
Encarregado do julgamento
Do ínclito senador.
A sorte, às vezes, é madrasta má:
Os números nunca combinam;
Noutras, solerte, pende, favorecendo
O malfeito alheio.
Um gênio brincalhão,
Contumaz trocista,
Parecendo estar de plena combinação,
O dadinho lançou,
Que caprichosamente rolou...rolou...
Plaf... sorteando
Eminente Ministro do STF
Que, rasgando seda em airosos elogios
Ao senador “tucanista”,
O cargo restituiu,
E declinou do pedido de prisão.
Coadunando com os ditames da lei,
O proceder do Ilustre Ministro está correto,
Em razão de os Poderes Republicanos
Serem independentes e harmônicos:
Um, não pode interferir
No campo de ação do outro.
Assim posto, um Senador da República
Só pode ser afastado da função,
Depois de pleno direito de defesa,
No âmbito dos seus pares no Senado.
Por que o mesmo preceito,
Não foi observado,
Em relação
Ao senador petista?
E agora, a condenação de Lula,
“Juridicamente frágil”,
Porque esbarra na falta de provas,
Tendo como libelo acusatório
Apenas convicção,
A que se presta?
Ao jogo previamente combinado
Para o time da direita sair-se vencedor,
Tendo o seu mais ardoroso atacante,
O juiz curitibano,
Desempenhado a contento, sua melhor partida,
Cumprindo o seu desiderato maior,
Cujo prêmio reverte-se num troféu tão almejado –
Politicamente liquidar com as pretensões
De o maior líder politico brasileiro,
Pela terceira vez, chegar à Presidente,
Inviabilizá-lo para a disputa em 2018,
Onde todas as pesquisas realizadas
Apontavsm, que o trabalhista,
Irá vencer?
O que naquela triste hora se atestava
É que já se sabia de antemão
Que a injustiça iria prevalecer,
Pois tudo fora armado,
Parcimoniosamente preparado
Para se condenar um inocente.
Que crime Lula cometeu
Que lhe turve a imagem,
E impunha condenação?
Será por que para o povo
Levantou questão?
E seu governo foi voltado
Para os pobres,
Para os necessitados,
Trabalhando em prol
Programas sociais
No Brasil, um sonho de esperança,
Inda que sob um céu em tempestade,
Onde a contradição e injustiça, bem sei,
Grassam -- condena-se sem provas,
Com objetivo politico,
A quem é o único capaz, de pôr para o bem do povo
Desta terra, o País nos trilhos de novo,
E “não vem ao caso”,
Mesmo com substanciais delitos provados,
Quando trata-se dos amigos do rei.