PENSANDO O NAVIO EM VERSOS NEGREIROS

Por que quando o branco pobre vai à missa no domingo

se encontra no sermão na hora em que o padre negro explica

que o povo ariano de Deus foi liberto da escravidão do Egito

e não se identifica mesmo sendo negro de tão pobre

com os filhos dos filhos daquele povo livre que foi um dia

nos grilhões da cobiça escravos de homens brancos ricos

vivendo horrores no Brasil português distante do mar Vermelho?

A ciência explica, a ciência explica...

Quem não precisa de um pouco de história

e da geografia mundial disponível no google

de uma dose de sociologia sobreposta à antropologia

e uma pitada de psicologia mesmo que compartilhada

de uma página copiada da cópia aqui no facebook?

Feliz de quem não precisa de ciência

e tem por perto uma benzedeira

preta velha de sorriso nos olhos

que faça do sofrimento uma cicatriz

debaixo do verniz das conveniencias

quando brilha seus olhos de menina.

Se não precisamos de mais ciência,

por que professoras brancas quase negras de tão pobres

estão ensinando religião nas escolas públicas

juntando o Estado à Religião e arando terreno para a corrupção?

Eu preciso, eu preciso...

mas não sei precisar com palavras

o meu discurso torto.

Por isso eu rezo, rezo e canto

se a ciência não explicar

na poesia eu canto.

*

*

Baltazar

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 11/09/2017
Código do texto: T6110948
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.