PENSANDO O NAVIO EM VERSOS NEGREIROS
Por que quando o branco pobre vai à missa no domingo
se encontra no sermão na hora em que o padre negro explica
que o povo ariano de Deus foi liberto da escravidão do Egito
e não se identifica mesmo sendo negro de tão pobre
com os filhos dos filhos daquele povo livre que foi um dia
nos grilhões da cobiça escravos de homens brancos ricos
vivendo horrores no Brasil português distante do mar Vermelho?
A ciência explica, a ciência explica...
Quem não precisa de um pouco de história
e da geografia mundial disponível no google
de uma dose de sociologia sobreposta à antropologia
e uma pitada de psicologia mesmo que compartilhada
de uma página copiada da cópia aqui no facebook?
Feliz de quem não precisa de ciência
e tem por perto uma benzedeira
preta velha de sorriso nos olhos
que faça do sofrimento uma cicatriz
debaixo do verniz das conveniencias
quando brilha seus olhos de menina.
Se não precisamos de mais ciência,
por que professoras brancas quase negras de tão pobres
estão ensinando religião nas escolas públicas
juntando o Estado à Religião e arando terreno para a corrupção?
Eu preciso, eu preciso...
mas não sei precisar com palavras
o meu discurso torto.
Por isso eu rezo, rezo e canto
se a ciência não explicar
na poesia eu canto.
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Baltazar