Coisas da vida
A vida nos vale tanto quanto
A façamos que valha.
É um choro, um sorriso, um canto.
É esperança, uma prisão, uma mortalha.
Há sempre em nós, guardado,
Algo que não nos escapa
Ao desejo de ser. Um trapo, farrapo,
Uma briga, um soco, um tapa.
Uma fúria indomável, atuante,
Que embora forte, marcante,
É dócil, é bela, é potente.
E cresce, semente, ativa, ardente.
É sempre rústico o lado mais forte.
É sempre mais profunda a ferida
Que fura, que rasga, é um corte.
São as armadilhas da vida.
Há sempre em nós, guardado,
Um lado prisioneiro, outro soldado.
Um lado vadio, quente, vivente,
E outro sombrio, frio, forçado.
Pelas próprias contingências da vida
É que nos fazemos fortes, valentes.
Somos negros, magros, humildes, presentes.
Vadios na queda e na erguida.
Fortes tanto quanto precisamos,
Fracos tanto quanto não podemos.
Pois que, se assim nãos fosse
Seria um buraco, um tombo,
Assim seria a vida.