Contingência

Então é isso? Será só isso, eu acho.

Ontem, eu não sabia sobre hoje. Hoje, eu não sei sobre amanhã.

E amanhã, não saberei sobre depois.

E é só isso. Dizem-me que perguntas demais não adiantam.

Dizem-me que não há mesmo um sentido. Que não preciso enlouquecer por não encontrá-lo, numa existência de mundo tão ralo.

Mas também dizem que perguntas movem o mundo. E eu não sei.

Não sei para onde o mundo está se movendo.

Eu não entendo, são tantas dores doendo.

As suas. As minhas. Eu saio pelas ruas. Vejo dor.

Eu olho nos seus olhos, vejo dor.

Vejo outras coisas além disso. Mas vejo mais isso.

E não me canso de perguntar.

Mesmo quando dizem para eu parar. Eu não paro.

...

Eu não sei sobre amanhã. Eu não sabia sobre hoje.

Eu nunca tive certezas. As dúvidas são tudo que tenho.

Tudo que tenho. Terei eu, mesmo alguma coisa?

Se eu tenho, se eu sou. Eu não sei sobre isso.

Mas eu sei sobre algo. Nós sabemos.

Sabemos sobre a incerteza. Sobre o controle que não existe.

Não adianta! Não adianta fingir que controla.

Faça planos. Não se agarre a eles.

Porque nós não sabíamos sobre hoje. Nós não sabemos sobre amanhã.

Lá fora, um barulho. Aqui dentro, um silêncio.

Lá dentro, um silêncio. Aqui fora, um barulho.

Eu não entendo as contradições. Os motivos. Ninguém justifica. Ninguém sabe.

Nessas horas, ninguém viu. Quem deixou a gente aqui. Aqui mesmo.

Aqui. Onde não sabemos sobre amanhã.

Thaís Carmo
Enviado por Thaís Carmo em 10/02/2017
Reeditado em 10/02/2019
Código do texto: T5908036
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