Janeiro

E quem disse que é fácil viver?

Viver todo dia como reflexos de escolhas,

guardiões de memórias,

construtores de futuros,

companheiros de outras vidas,

idealizadores de sonhos,

portadores de sentimentos diversos,

com uma alma a se prestar contas,

no cotidiano concreto,

é difícil pra todo mundo.

E por ser difícil já deveríamos saber

que o grau não diminui para ninguém,

mas é possível simplificar.

Não é porque não temos obrigação de agradar a todos,

que justificamos ser desagradáveis e intragáveis...

Não é porque enfrentamos dias mais difíceis,

que não podemos agir o tempo todo com gentileza...

Não é porque sorrimos ou choramos

que estamos em todo tempo só felizes ou tristes.

Como se "estar" fosse "ser",

e "ser" um dos dois fossem fruto de uma ditadura,

igual a tantas outras definidas por parâmetros inexplicáveis.

Não é porque crescemos e nos tornamos adultos

que deixamos de ser crianças...

Nem porque temos a leveza de uma criança

que não podemos discernir e se posicionar

com a maturidade de um sensato adulto.

Não é porque estamos sujeitos a mudanças,

para pessoas piores ou melhores,

que comparamos somente o começo ao fim,

se além disso somos o meio.

Se preocupamos só com o que temos, sobrevivemos...

Nos empenhamos demais em dar e receber,

até que a alma cansada e enfastiada começa a sobreviver.

E se só sobrevivermos desacostumamos a viver.

Quanta desordem se instala

quando se prioriza só a ordem...

Falamos da eternidade como se já não fizéssemos parte dela,

falamos do tempo como se ele não passasse a todo segundo,

falamos das mágoas e dores como se elas não nos fortalecessem,

como se não pudéssemos transpor em virtude do amor...

Falamos do amor como se só existisse em contos de "era uma vez..."

como se fosse tão frágil e incapaz de habitar em locais inóspitos.

Exigimos dos outros como se eles fossem como nós,

e demoramos a entender que cada um só dá o que tem...

Falamos de ausências como se elas fossem reais,

falamos de presença como se estar ao lado de alguém conectado a tela,

fosse o calor do abraço de um olho no olho.

Falamos da vida como se soubéssemos vivê-la,

como se fossemos outras pessoas,

e contássemos a alguém uma história,

não como se fossemos íntimos de tê-la vivido...

Analisamos os outros como se não pudéssemos ser analisados...

Restringimos a só saber quem somos,

para de fato nos encontrar nos outros...

Anunciamos a Deus como se pudéssemos nos fazer ouvir,

e de fato somos quando o outro quer alento a carne.

Como se sentar e conversar das coisas do criador,

fosse algo tão banal que seja considerado ultrapassado.

Erramos como se estivéssemos acertando,

acertamos nas coisas que pensávamos sempre errar.

Ano a ano, dia a dia, segundo a segundo,

como se pudéssemos viver mais de uma vez,

o mesmo ano e mês, o mesmo Janeiro.

Viver...

... não é só sobre o futuro, nem só sobre o passado,

é sobre o quão simples e pouco é o que necessitamos,

o quão necessário é preciso para estar e viver bem

sem que nos tire a singularidade de ser nós mesmos,

neste breve PRESENTE, o findável meio.

Ano a ano, janeiro a janeiro.

Será que a felicidade reside no que é essencial?

Se o soubermos perceber então seremos diariamente felizes,

o ano inteiro!

30/12/2016

Keith Danila
Enviado por Keith Danila em 08/01/2017
Reeditado em 09/01/2017
Código do texto: T5875957
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