O Feiticeiro

Falavam de mim, os identificados.

E eu seguia o caminho sem fim.

Rasgou o espírito o susto com o nome,

Aquele nome de que me chamaram.

Gritaram "e aí, varão!" E eu não...

Eu não soube bem o que dizer.

Então senti o braço responder,

Mas foi arremessado pra longe, meu ser,

Pela identidade do identificável.

É isso que eu quero?, pensei.

Então encontrei o que não se procura,

Outra vez e pra toda a eternidade.

Que vejam o braço, o movimento, a obra.

Que vejam a cobra que eu mato e faço nascer.

Querer é poder, digo eu. Querer é poder!

E ela se curva às minhas mensagem, a imagem.

Não quero que vejam o nome que faz.

Verão pela obra a minha vida sem nome.

Na obra, digo eu. Apenas na obra!

Sem sombra de dúvidas, ela tem vida.

E com suas feridas, que viva! - pois eu viverei.

Verei seu nascer, padecer e infinito.

E é tão bonito este tudo que eu faço.

Faço por mim, pra que eu admire.

E que me admire o da vida espelhada.

Porque espalhadas estão minhas almas,

Múltiplas desta minha meta-existência.

Este meu existir, o refletir do espaço

No tempo infinito da minha grandeza.

E que estranheza aquele meu nome.

É isso que eu quero?, pensava.

É claro que não, portanto sou tudo!

E qual é minha arte, você que me vê?

Diga em voz alta pra que não se esqueça:

Qual é minha arte que tudo é pedaço?

Eu crio, procrio, mal crio - a cria da ação.

A cria do ato, é fato, é A Criação.

E faço pelo meu ver, meu saber,

Faço pelo meu santo poder.

Não assino, nem dato - eu mato!

Mato verde que cresce, que é meu, eu plantei.

Você sabe que eu sei, sei que enxerga.

Sei que entende, e sei que se perde.

Vê se se enxerga! Não me chame por nome,

Porque Sou, sem nome, O Feiticeiro.

E rasgou o espírito aquele estranho chamado.

Veja meu movimento, meu momento,

Meu desconhecimento. Eu sou. E serei.

E farei com que veja que eu sou a cereja

Que você chupa com gosto quando me come.

Aquele meu gosto. Um gosto de Sou.

Um gosto de Eu Posso. Um gosto que é nosso.

Quem quiser, me procure: só sou visto na luz.

Ademais, segue o braço, e o vento

Que com o movimento eu faço. A obra.

É nela que eu sou. Ela É minha arte.

E só a fiz porque, sabe? Eu vi que era boa.

Se você me entende é por eu me entender.

Eu me deixo as mensagens, e você sabe

Daquilo que eu falo, ou não sabe?

Eu vejo você. Mas você me vê?

Eu sou o eterno silêncio sem nome.

Julião Morsa
Enviado por Julião Morsa em 13/12/2016
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