Ando invejoso de baratas
Se o leitor viesse até mim
E me pedisse que lhe dissesse
Um livro que a essência humana descrevesse
Escreveria uma lista sem fim
Mas se o leitor, contudo, insistente
Pedisse apenas um livro
Dentre todos que já tenha lido
Um ressoaria na minha a mente:
A metamorfose - Kafka
Não fica claro em uma leitura superficial
De qual inseto enorme o livro trata
As descrições sugerem uma barata
Aqui inicia algo que me é muito especial
Como Kafka conseguia?
Captar detalhes, vislumbres, nuances
Um universo de genialidade em cada romance
Uma barata que o humano traduzia.
Ou ainda me lembrando de um outro autor
A música Leila, do poeta Renato Russo
Que retrata da forma mais pura, um percurso
De uma amizade embasada em uma relação de amor.
A barata volta aparecer como um segredo
“Tem uma barata voadora no quarto das crianças”
A amizade pura que inspira essa confiança
De revelar falas reveladas do nosso medo
Mas da Clarice vem minha inveja mais ferina
Que ao ver uma barata no quarto da empregada
Para escrever “A paixão segundo GH” se viu inspirada
Um livro da essência humana em sua filosofia mais fina.
Choro ao ler esse livro da Clarice – Esse livro me mata
Como pode uma mulher possuir tanta genialidade
Olhar uma barata e escrever com tanta habilidade
E eu olhar esse inseto e não me ser nada além do que uma barata.