Ando invejoso de baratas

Se o leitor viesse até mim

E me pedisse que lhe dissesse

Um livro que a essência humana descrevesse

Escreveria uma lista sem fim

Mas se o leitor, contudo, insistente

Pedisse apenas um livro

Dentre todos que já tenha lido

Um ressoaria na minha a mente:

A metamorfose - Kafka

Não fica claro em uma leitura superficial

De qual inseto enorme o livro trata

As descrições sugerem uma barata

Aqui inicia algo que me é muito especial

Como Kafka conseguia?

Captar detalhes, vislumbres, nuances

Um universo de genialidade em cada romance

Uma barata que o humano traduzia.

Ou ainda me lembrando de um outro autor

A música Leila, do poeta Renato Russo

Que retrata da forma mais pura, um percurso

De uma amizade embasada em uma relação de amor.

A barata volta aparecer como um segredo

“Tem uma barata voadora no quarto das crianças”

A amizade pura que inspira essa confiança

De revelar falas reveladas do nosso medo

Mas da Clarice vem minha inveja mais ferina

Que ao ver uma barata no quarto da empregada

Para escrever “A paixão segundo GH” se viu inspirada

Um livro da essência humana em sua filosofia mais fina.

Choro ao ler esse livro da Clarice – Esse livro me mata

Como pode uma mulher possuir tanta genialidade

Olhar uma barata e escrever com tanta habilidade

E eu olhar esse inseto e não me ser nada além do que uma barata.

Luan dos Santos
Enviado por Luan dos Santos em 03/11/2016
Código do texto: T5812456
Classificação de conteúdo: seguro