CALA-TE!

Cala-te, Mundo! Teu festivo som me irrita!

Minh'alma tem uma vastidão de universo,

sem as respostas que resgatam do inferno,

disfarçado sob o estéril cancro da ferida.

Disfarçado sob o estéril cancro da ferida,

mora a vida desnuda da máscara do viço,

com seus pálidos tons de morte em litígio,

enfeitiça com o fervor de doce noviça.

Sem as respostas que resgatam do inferno,

seguimos o estupor da coletiva cegueira,

alternando luz e trevas em direção à fogueira,

cultivamos estulta alma no lodaçal interno.

Minh'alma tem uma vastidão de universo,

ora em agonia, ora encenando ato de fé,

cujo milagre maior vai me mantendo em pé,

qual dedo em riste em obsceno gesto.

Cala-te, Mundo! Teu festivo som me irrita!

Não vês que sozinha te aprisiono os mistérios,

lapidando em respostas a erosão dos minérios,

que abrigas no ventre fervilhante de vida?

Queria tão pouco do tanto que ostentas!

Que o ato de fé impregnado fosse na alegria

de alforriar a penúria das noites e dos dias,

travestindo o soluço em casquinadas magentas.