Chão e lamparina

Morávamos em uma pequena casinha.

Éramos da roça, nossa casa era de barro.

Que casa não é de barro?

O que não tínhamos era sofisticação,

Conforto a gente tinha de sobra.

Nosso piso não era de terra modelada, moldada, assada,

Era o próprio chão que nos sustentava.

Nossa iluminação não vinha da eletricidade.

O que é eletricidade?

Isso só pode ser coisa da cidade!

O que clareava nossas noites

Era a luz do luar, ou o fogo no querosene.

Alguém de hoje, na cidade, sabe o que é lamparina?

De tempos em tempos fazíamos reforma.

Trocávamos os cipós e as taquaras,

Buscávamos barro e bosta de vaca.

Minha vovó dizia que era para dar liga.

Víamos o chão na parede,

Transformávamos o chão em parede.

Já pensou que sua parede um dia foi chão?

Pois é, somente nós, aqui da roça é que temos essa noção.

Inclusive eu, sou humano, sou húmus, sou terra.

É, mas você não, você diz que é gente,

E não se lembra mais da sua origem.

Criou tantas coisas que acabou esquecendo-se de quem é.

Vim da casinha de taipa, me lembro muito bem.

Você se perdeu na estrada, não sabe o que é, nem quem.

Eu nunca me esqueci de onde vim, já você,

Fez questão de esquecer!

Paulo Francisco dos Santos
Enviado por Paulo Francisco dos Santos em 02/07/2016
Código do texto: T5685315
Classificação de conteúdo: seguro