A mim, com carinho

Quantas vezes eu repeti, sem pensar direito, que não tenho nada.

Só que eu tenho sim.

Eu tenho a mim. Aprendi a ter.

E isso é mais que suficiente. Eu me basto.

Há tantos por aí que têm tudo e o mesmo tempo não têm nada, pois lhe falta a si mesmos.

Por sorte ou ironia do destino, fui convidada a me retirar de muitos corações que eu nunca poderia ocupar, pois sou espaçosa demais.

Agradeço a vida por deixar ao meu lado apenas aqueles que não se importam com a bagunça eu causo ao entrar em suas vidas.

Se eu amava muito, era a carente.

Hoje, por bater à porta na cara de sentimento, sou a indiferente.

Sou aquela que nunca liga, pois anda ocupada demais em correr atrás da vida. Não se declara em público e nem a sós. Não faz beicinho e nem charme.

Mas, o que não se ver, é que eu sou a que ama até o coração sufocar no peito e a garganta arranhar por sentimentos não ditos. Que seca as lágrimas que não caem quando assume a postura de forte perante as adversidades. A que enxuga os gelos emocionais que escapa, quando guarda a frieza e se torna a menina insegura, às escondidas em seu quarto. A que se tranca em sua armadura para se poupar e não passar vergonhar em insistir em algo em que nada acrescenta ou muito pouco.

Hoje sei o meu lugar e onde devo ficar para não ser notada.

Sei a hora de chegar e o momento oportuno de me retirar sem causa rebuliço.

Aturo uns desaforos com a cara de paisagem que não deixa transparecer a minha irritação e resignação. Fico calada pois sei que não vale a pena retrucar e que não tenho poder de mudar ninguém.

Amo de um jeito que só os fortes entendem.

Ao contrário de muita gente, que demonstra sentimentos apenas para se promover, só me escancaro para quem merece o meu afeto sincero e desprendido.

Sou de ferro, não quebro. Já aguentei muita porrada da vida e isso me fez mais forte. Por isso pequenos atritos não me atingem.

Não nasci para viver numa redoma de vidro.

Se hoje sou pedra, em outros momentos sou o vidro.

Tenho o espírito indomável, mas não significa que não estou nem aí para nada e nem ninguém. Eu me apego sim, mas não sou dependente a ponto de não haver vida em mim, caso o mundo me tire algo ou alguém.

Amei pessoas erradas e que não mereciam meu amor sim. E isso só fortaleceu o meu coração para amar a pessoa certa quando ela aparecer.

Ando pela vida chutando as pedrinhas do meus castelos que desmoronaram. Pensando demais e agindo de menos. Calando muito. Doando-me quando dá.

E quem eu achava que estava comigo, não está.

E que deveria estar, hoje tenho certeza que está.

Eu.

Somente eu.

Aplausos para mim.

Ando em melhor companhia.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 19/05/2016
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