Caridade social.

Nas janelas, persianas;

Nas ruas, cimento e medo;

Nas igrejas, castas insanas.

Mundanos cumprindo decretos.

E a fome obriga

quanto o poder implica;

quanto a fé abomina

e a vontade rumina.

É o mundo a pastar

deixando à fome alheia

os sobejos das ricas mesas;

os tropeços do pobre a andar.

É o proveito das gentilezas

de toda nobre gente a gralhar

de um bufão em seu ofício

nas sobras sem desperdício.

É a inocência do carrasco

na força de seu golpe

no penar de sua confissão

ao por-se no penhasco.

No desenfreado galope

a desejar apenas a insana;

a querer a mundana sem asco;

a entorpecer seu coração...

É o perder de tudo

para preservar sua vida.

Prostituta no reduto

a gozar-se preferida.

Mas que gozo há

entre vidros, plásticos,

ferros e concretos?

Dentes e alma de asco.

Corpo, espíritos e cabelos

retorcidos num toque.

Num serpentear por sê-lo

na verdade a reboque.

Ah, o consolo da pobreza...

segurança da riqueza

perdulários em avareza

a dourar mais sua realeza!