Sem sinal

Em Realengo, meu telefone não fala

e eu não me culpo

oculto assim a transição

que me parece lugar comum,

olho as árvores que ainda restam

poucas e a cada dia menos se veem,

o oxigênio não importa,

os projetos urbanísticos

sonham cimento, aço e vidro.

Árvores não liberam Wi-Fi

então por que preserva-las.

E assim o cinza e a indiferença

ganham o seu dia,

esmagando o que não se enquadra,

o progresso de uns

é o retrocesso de muitos.

perdemos o chão, perdemos o céu.

perdemos o passado,

perdemos o futuro,

nos perdendo no presente.

João Lellis