À Ícaro, com amor
Ah, Ícaro
cuidado com a altura do teu voo
porque até sonho tem limite
Ah, Ícaro
cuidado com essa tal liberdade
se não ela vai acabar por derreter as tuas asas de cera
vai fazer você se afogar no Egeu abaixo de nós
Por que, Ícaro?
Por que se fazer tão inconsequente?
Um momento de liberdade vale tanto assim?
Desde quando a vida lhe soa tão indelével?
Desde quando você é tão moderno?
Nem todo moderno é bonito
Principalmente no que tange os comportamentos
Ah, Ícaro,
Sei bem quão lindo o Sol pode parecer
Mas voe perto dele e te matará.
Ícaro, Ícaro
Ouça bem, Dédalo, teu pai
Voando assim, nem Deus pode te salvar
E nem todo o Olimpo teria poderes para te trazer de volta
De que valem todas essas nuvens
Se batendo tuas asas dessa forma
eu já sei teu fim?
A minha esperança é a mitologia se contradizer
É o teu juízo voltar ao lugar que lhe é devido
É o décimo sétimo andar desta torre,
presenciar, no décimo sétimo dia
o teu pouso perfeito
O juízo é capaz de reverter a história
O juízo é capaz de reverter até o resultado da inconsequência
O juízo, Ícaro,
- isso se você o aceitar -
vai te manter seguro em pleno voo
e vai te fazer pousar em paz
As tuas asas são de cera, meu caro Ícaro
A liberdade é atrativa
A vida é efêmera
E o amor, este sim, é indelével...
* Este poema foi escrito em 23/02/2014.