DO ALZHEIMER A ESPERANÇA
Mergulho na intensidade de um choro profundo
Aprendendo a lidar com o medo
De perder tudo que pude construir de bom
Meu acervo de recordações, bens imateriais
Argila nas margens do rio
O gosto exótico dos frutos da árvore espinhosa
Dos altos lajedos, que me presenteavam
As mais belas paisagens montanhosas.
O sorriso infantil do meu filho
O cheiro que a terra exala na primeira chuva
As conversas na hora do recreio
E as histórias que a professora contava no final da aula
O que eu sou é o resultado do que eu fui.
Hoje desejo apenas mais um dia feliz.
Choro com medo de simplesmente esquecer
Não me lembrar do caminho de volta
Do belo vestido que a minha filha mais gosta
Instigantes filosofias, ou uma prosa boa tomando café.
Admito minha fragilidade
Tenho medo de me ver confuso num mundo
Onde o homem perde cada vez mais a solidariedade.
Se minhas lembranças sumirem, enfraquecendo quem eu sou
Deixarei algo escrito, feito ou sentido
Para que seja meu ponto de partida,
Uma esperança que nunca acabará
Quando eu renascer nos meus dias.
João dos Reis (17/06/2015)