À espera do fim

Espero aqui pelo fim

Que eu tanto ensaiei.

E então me digo:

Se o mundo que está lá fora dura tanto

E eu, que sei que vou passar, tão pouco.

Pouco me importa

Se descobrirem, afinal, que ele não é eterno.

Eu também não sou eterno, ora.

Sou para o outro

Aquilo que digo e faço enquanto passo.

Para mim, só sou a consciência de mim

E quando vinda a morte,

Só serei o que alguém acaso salvar.

Já para mim

Nunca terei existido.

O futuro não está fora de nós,

Mas dentro como a morte.

Verdade é que cada um morre a sua morte.

Cada morte é única.

Nasce do que cada um viveu.

Tudo só acontece uma vez.

Nunca os mesmos cheiros,

Os mesmos sons, os mesmos gostos,

As mesmas conversas ouvidas atrás da porta.

Já não quero mais jogar.

Sinto que estou perdendo, Tempo.

E o preço é alto demais.

Minha vida não pode ser uma aposta.

O meu passado sou eu.

As incertezas, também.

Tudo o que é confuso e sombrio habita em mim.

Porém, o lugar que eu deixar

(Se é que eu habito em algum lugar)

Será ocupado por outro

Que trará sua vida organizada

E viverá sem definição de mim.

Quem aqui ficou vivendo

Consumirá-me juntamente com seu café da manhã,

A cada manhã.

Porque a vida não para por ninguém.

A vida só quer viver

E livra-se constantemente do que finda.

Ela recomeça e reinventa-se facilmente.

Tudo apaga e modifica,

De tal modo perfeito, que o que parece igual, não o é.

Nada resta das alegrias e tristezas,

Dos sofrimentos e paixões (se é que já tive uma),

Da insensatez e do medo.

Tudo se ilumina com um novo amanhã.

Não resta temor, nenhuma esperança maior.

Serei lembrado ou exilado

Deste lugar que nem pensei ser real.

Sei que enquanto eu estiver vivendo,

Vão fingir gostar de mim.

Na cordilheira da noite, serei a radiante solidão.

Na luz solar da manhã, o contorno de um sorriso.

Em momentos livres, alegria de tarde banal,

O olhar esconde algo novo.

Fuga para outro lugar.

Quero ser livre e eu

Para poder escolher por mim mesmo.

Quero acreditar na ideia infantil, ainda,

De que posso mudar o mundo (nem que seja o meu)

E escrever uma nova história.

Não ter medo. Não ser fraca.

Viver ou morrer, no final é tudo igual.

O que muda é a história

E quem irá contar (e por que não eu?).

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 01/04/2015
Código do texto: T5191906
Classificação de conteúdo: seguro