Breve reflexão de mim

Não sei quantos eu tenho em mim.

A cada momento, mudei.

A cada espaço de tempo vivido, mudo.

Continuamente me estranho.

Neste tempo escorregadio,

Perco-me em devaneios e ilusões.

Ainda não me vi e nem me achei.

De tanto ser outros, restou-me apenas um eu.

Um eu manco e fraco.

Atento ao que sou e vejo,

Torno-me outro e não eu.

Cada sonho ou desejo

Não é genuinamente meu.

Nasce do outrem que habita em mim.

Ser forte é o que preciso ser.

Porém, ser fraco é o que sei ser.

Sou a minha própria paisagem.

Assisto a minha passagem,

Pois história é o que somos.

Temos a sensação que o tempo passa,

Mas somos nós que passamos.

A minha passagem pelo mundo

É débil, móbil e só.

Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio ao mundo,

Sento-me em meio as memórias fósseis.

E vou lendo como páginas, meu ser.

História escrita por mim.

O que segue não prevendo,

O que passou a esquecer,

O que deixou de viver.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 19/02/2015
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