Lamento do índio.
Desnuda-se a mata que outrora era virgem,
Silencia o canto sublime do sabia,
Derruba-se o gigante inerte da floresta,
Desapropria tão bons proprietários naturais,
Brutalmente se arranca os índios de suas malocas,
Saqueando todas suas riquezas,
E matando suas almas imortais,
E peregrinam não em migração,
Forçados pela estação,
Mas perambulam pelas cidades,
Dormem em calçadas,
Comem o mais duro pão,
Embriagam-se na essência do homem branco,
Para anestesiar sua dor,
Enganar seu maléfico tumor,
Para alguns são chamados de vagabundos,
Criminosos por sentir preguiça,
Eu digo a este sistema corrupto,
Ao inferno com seus preconceitos e falsas amizades,
Compradas com a terra deles,
Irrigada com o sangue de seus antepassados,
Um proprietário se gaba de seus infinitos alqueires,
Quem lhes deu a terra?
Quem a vendeu a seu avó, e ao avó do avó dele?
Se não foi o pau de fogo, contra tacapes e flechas,
Enoja-me esta sociedade, esta desigualdade,
Como um câncer que me consome dia a dia,
E quando vejo os índios nesta situação,
A vergonha do furto e saque que sofreram,
Recai em mim, como um trovão,
A visão da natureza sendo estrupada e contaminada,
É mais do que posso aguentar,
E por isso entendo estes índios,
Que preferem a inércia do viver,
Como mortos vivos eles alcançam a linha tênue do morrer,
E ouço gritarem:
Levantem e lutem pela mãe de todos,
Eu serei a voz de vocês,
Para os chefes brancos!
Eles na sabedoria centenária respondem:
Não caraíba, foi ouvindo e confiando em vocês,
Que permitimos que roubassem de nós,
Nossas terras, nossos rios, nossas crianças e mulheres,
Nossos guerreiros, nossos peixes e nosso orgulho,
Agora ficaremos aqui sentados,
E um a um assistindo,
Vocês seguindo seu destino,
E para o fim caminhar,
E a total extinção de sua tribo encontrar.