RETORNO INFELIZ

MEMÓRIAS IMEMORÁVEIS DA ÁGUA PURA - parte 6

Estou de volta e inconformado

Com esse destino que me conduz,

Serei para sempre um revoltado

Buscando no fim do túnel uma luz.

Será que atirei pedras na cruz,

Estou pagando por algum pecado?!

Vai pro Diabo, serviço desgraçado,

Com esse salário que te faz jus.

Ofuscado pelo brilho que reluz

De um otimismo agora redobrado,

Eu nunca mais serei explorado,

Conversa de patrão não me seduz,

Que finge acreditar em Jesus

Explorando e humilhando empregado.

Dizem que a escravidão acabou.

Eu, sinceramente, não acredito.

Quem diz isso nunca precisou

Trabalhar nesse serviço maldito,

Onde só tem funcionário aflito

Pelas desgraças que já passou.

Seja um pedestre que atropelou

Ou a velha que lhe deu um grito.

Cliente ruim tem de todo tipo,

Com um deles alguém já cruzou.

Aquele que o Demo amaldiçoou

No seu “conhecimento” infinito,

E o miserável de sorriso bonito

Que uma moeda sempre negou.

A vida oferece altos e baixos,

É preciso mesmo ter paciência,

Depender de patrão é esculacho,

É afundar na própria falência.

É relevante usar a inteligência

E nesse ponto eu me encaixo,

Pois nunca que me rebaixo

A qualquer ato de negligência.

Se é compromisso de urgência

Alguma ideia eu sempre acho,

Existem mil formas de cambalacho

Pra serem usadas numa emergência,

Pois comigo não tem clemência;

Aqui o buraco é mais embaixo!

Por fim, eu gostaria de dizer

Ao novato que se encontra ali:

- Cuidado para não se arrepender,

A sucursal do inferno é aqui!

Meu Deus, como eu já sofri

Nessas entregas, sem perceber

Que castigo de pobre é sofrer,

Mas eu nunca que vou desistir.

E agora, sequer, consigo sair,

Resolveram, de fato, me prender,

Nesse triciclo ainda vou morrer;

Por favor, alguém me tire daqui!

Antes que essa pôrra venha falir

E nada restando para se fazer.

Paulo Seixas, 29/julho/2006