FOME
Que fome é essa que me fala
O meu estômago enfastiado;
Fome sublime ou é pecado
Ou perfurado foi a bala?
Será uma fome do desejo
Acumulado em baterias
Acumuladas nas coxias
Desse organismo sem despejo?
Ou é uma fome do Sublime,
Necessidade de saciar
Essa saudade de um lugar
Em que minha alma enfim se anime?
Talvez a fome que acompanha
A humanidade tão sofrida,
Sem ter Justiça, essa comida
Que para tantos é estranha?
Não é comida que me falta;
Eu posso assar já um churrasco,
Locupletar-me até ter asco,
Depois dormir até a alta.
Também o desejo não domina,
Quando ele vem, encontro braços
Sempre presentes em meus passos,
Trazendo a calma à alma ferina.
Nem do Sublime sou carente,
Pois não permito nem um dia
Deixar de expor com ousadia
Os meus anseios ao Grande Ente.
Talvez a fome mesma exista
Em perceber que a injustiça,
Cuja engrenagem não enguiça,
Aumenta o rol dos que alista.