FOME

Que fome é essa que me fala

O meu estômago enfastiado;

Fome sublime ou é pecado

Ou perfurado foi a bala?

Será uma fome do desejo

Acumulado em baterias

Acumuladas nas coxias

Desse organismo sem despejo?

Ou é uma fome do Sublime,

Necessidade de saciar

Essa saudade de um lugar

Em que minha alma enfim se anime?

Talvez a fome que acompanha

A humanidade tão sofrida,

Sem ter Justiça, essa comida

Que para tantos é estranha?

Não é comida que me falta;

Eu posso assar já um churrasco,

Locupletar-me até ter asco,

Depois dormir até a alta.

Também o desejo não domina,

Quando ele vem, encontro braços

Sempre presentes em meus passos,

Trazendo a calma à alma ferina.

Nem do Sublime sou carente,

Pois não permito nem um dia

Deixar de expor com ousadia

Os meus anseios ao Grande Ente.

Talvez a fome mesma exista

Em perceber que a injustiça,

Cuja engrenagem não enguiça,

Aumenta o rol dos que alista.

Marcelo David
Enviado por Marcelo David em 10/10/2013
Código do texto: T4518840
Classificação de conteúdo: seguro