A PORTA
Hoje vi a poesia;
Pareceu não me ter visto.
Passou meio de largo,
Meio apressada, meio triste.
Quase não acreditei, eu pensei:
Meu Deus, o triste aqui sou eu!
É ela quem me anima
Quando o tédio desanima...
O que será que pode abater a poesia?
Quem teria tão nefasto poder?
Segui a dama de longe,
De onde ela não me visse.
Andou por ruas escuras,
Por becos lamacentos,
Vielas;
Discutiam sem vê-la.
Parou.
Parei.
Conhecia aquele lugar...
Céus, a minha casa!
Tocou de leve a maçaneta,
Não insistiu:
Continuou seguindo,
Parecia mais triste do que antes...
Percebi tarde demais:
Ela fora procurar-me,
Para se alegrar comigo.
Corri;
Tentei alcançá-la, em vão;
Não a vi.
Ouvi um batente;
Olhei pela janela, lá ela estava:
Alguém deixou a porta aberta...