PENSAMENTOS SOB UMA ÁRVORE
Recomponho-me como o ciclo das estações
E as altas constelações
Ainda por desvelarem-se
Recomponho-me por mim através de tudo
E sob esta amplidão listrada em sombras
Que passam perto sem dar por mim —
Dirigem-se com o lanço do meu olhar
Pelo mundo
À margem da clareira no alvorecer
Seguem, seguem ao par
Com um par de zebras em longa caminhada
Ecoando rochedos batidos pelo mar
Num tempo sem fim
Conquanto aqui, sob a árvore kinzenze*
Os raios de sol são suaves penachos
Quando muitos entre os capinzais
Tenho a companhia das aves do estuário
(São os amigos que me restam)
Elas contam-me parábolas de um tempo
Que se foi e não retrocede
Recomponho-me com o ciclo das estações
Que ora o vento traz das algas do pântano
E o eco leva para lá dos montes
Atendendo, antes, ao sonho que se dá
Por falta de mim
E prosseguir sem perder sentidos meus
Aos estranhos sabores
Que me vierem vindo
Em um andar do tempo que jamais para.
*kinzenze = planta medicinal e aproveitada para sombra.
Originalmente escrito em Kimbundu.
Tradução portuguesa do autor.