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Este é o vigésimo oitavo encontro das personalidades

Todos aguardam ansiosos pelo desfile no tapete de entrada.

Um longo, bonito, novo e lotado carro chega pela avenida

E os brilhos das câmeras tornam a noite em dia

A porta se abre, e primeiro descem os gêmeos

Discutindo soluções absurdas para problemas inexistentes;

Em seguida, um rapaz engravatado, com a calculadora em mãos

Somando o metro quadrado de porcaria que disseram anteriormente;

Do outro lado desembarca um cachorro sem nenhuma pata

Sendo carregado por uma pata sem nenhum cachorro,

Seguidos por uma pasta, um posto e um único ovo

Que escapa das marteladas do velho carpinteiro que vem na sequência;

O motorista, embriagado, de olhos vermelhos, ansioso e assustado

Evita que seja atropelado o homem de sobretudo

Que são apenas 3 crianças empilhadas sob um tecido de veludo:

A base, uma criança gorda com cabelo de tigela;

O meio, uma criança pálida que não sabia quem era;

O topo, uma criança com chapéu de palha e olhos de quimera.

Em suas andanças, atropelou sem checar quem era

A pobre garota magrela

Que ainda não havia conseguido uma única gorjeta.

Já jogado na sarjeta estava o suicída

Com sua equipe personalizada estancando o sangue dos pulsos.

Um beato, todo de preto com a bíblia debaixo dos braços, rezando por sua alma

E o incrédulo sarcasticamente fazendo gestos e batendo palmas

Se estranham, perdem a calma e pulam do início direto para o final.

Quem separa este conflito é o general

Que descia do banco da frente, arrumava as estrelas de sua patente

E gritava do fundo de seus pulmões.

Assustando, também, um rapaz encapuzado

Que evitava ao máximo ser reconhecido.

Junto dele surgia do porta mala:

Um comediante, com um microfone

Um músico, com um megafone

Um preso, que não tinha nome

Um rapaz que comia de tudo,

E outro que não tinha fome.

Um entusiasta, buscando por renome

Um explosivo, que qualquer coisa já basta.

Muitos executivos e suas pastas,

Surrando um falido cineasta.

O mestre de cerimonia convida todos para dentro

E anuncia o grande vencedor

Quem outro senão ele mesmo,

O grande maestro por trás de todos?

O indomável, o inquestionável

A única razão pela existência de qualquer um ali.

A plateia reclama em uníssono

É a vigésima oitava vez que isso acontece