Palavra à solta

Sou construída de palavras

De todo tipo que você possa imaginar

Palavras eruditas, palavras radicais, aquelas gírias essenciais, palavras finas e gordas, palavrões ou monossílabos,

Até mesmo o silêncio, que é a palavra que nunca sai

Caseiro que só ele, fica em casa trancado

Paz e amor, rapaziada!

Mas agora não me vem a palavra

Escapou-me a safada

Você sabe qual é?

Não consigo lembrar

Ela fugiu da minha língua e ainda deu uma mordida

Pouco antes de ser usada da minha coleção

Fez suas malas apressada e se mandou por aí

Deve ter ido pelas entrelinhas, pelo que a conheço bem

Talvez eu ainda a alcance

Só me resta rezar as orações subordinadas

Buscando explicações dessa ida repentina

Não deixou nenhum contato

Nem sei mais sua pronúncia

Em meu peito está você

Ó flor de lótus das letras minhas

Mais bela não há...

E de tanto te esperar renascer em mim

Eu te perdi e não a reconheci em outras bocas

Que ousaram falar-te

Foi-se, então, uma palavra a menos

Um significado a menos

Menos eu em mim mesma

Palavra à solta,

Fico eu prisioneira.

Isis do Vale
Enviado por Isis do Vale em 29/12/2021
Reeditado em 01/01/2022
Código do texto: T7417685
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