ANESTESIADOS

Existem rosas que exalam seus perfumes,

Mas nunca puderam viver como uma flor,

Há frágeis velas que resistem aos vendavais,

Enquanto grandes chamas sucumbem,

Olhares que vagam na imensidão do universo chamado alma,

Há uma pequena fonte d’água cujo barulho acalma.

Açoitados e anestesiados tentando manter um último fôlego de esperança,

E a força de onde vem? Não sabemos, simplesmente emana,

E nos chama a continuar, contra a corrente, nadar, nadar, nadar...

Será que a lente que enxergou Plutão, pode compreender o que carrega esse coração,

Ou essa música que ali toca é uma mistura de carnaval com ilusão,

Para aguentarmos todos os horrores que no caminho nos confrontarão,

O espírito grita como um pássaro que repentinamente caiu de seu ninho e não sabe voltar,

E o seu grito é mudo, mas agudo feito uma bola imaginária que prende na garganta e nos furta o ar,

Humanidade devastada, sendo levada pelas correntezas de uma enxurrada,

E sentimos essa espada que inflama na divisa do corpo e do metafísico,

Mas resistimos um pouco mais, dia a dia, um pouco mais,

Mas quem entenderá as fontes dos nossos “ais”,

O colar de pérola foi estourado,

É tempo de recolher o que sobrou,

Com a mão que pouco pode segurar,

Enquanto os verbos conjugados são chorar, respirar, tentar e continuar...

Continuar sendo a rosa que exala seu perfume,

Mas sem nunca ter sido flor,

Ser frágil vela que resiste aos vendavais,

Permitindo que os olhos vaguem na imensidão do universo chamado alma,

Até, finalmente, encontrar uma pequena fonte d’água cujo barulho acalma.