O Espirito Materialista

Amorosa barcarola,violoncelo dos sentidos,

Canto feroz da material volupia eterna

Permanece na memória do amplo sangue

Do corpo as fibras mais intimas soando.

Que orquestração espiritual,tua boca doce!

Quanta verdade nos mistérios de teu sexo!

Quanta mística revelação no forte gozo!

Quanta vida na satisfação da saciedade!

Um hino a matéria exalta o puro espírito

Do bardo a amar as chamas imortais

A memória grata do volupico abandono

Por esquadrões de musas carnavais.

Unidos alma e corpo no mesmo enlace férreo

Qual duma rosa à pétala perfumosa o aroma

Ente forjado de uma dupla artéria

Palco onde voam as paixões do sangue.

Quem pensou em separara carne flórea

Palheta sensível que sente,suspira e sonha,

Nesse báratro atroz de necessidades terrestres

Da essência alta que é alento e poesia?

Socrates, nisto talvez foste um lôbrego estulto!

Se em carne goza amara-me o seio belo

Como infunde amor no cerne do teu corpo

Um enxame de beijos e caricias ternas!

O presente,ungido da forma,o espírito possante,

A hora a badalar entre milhões de assomos

O corcel da humanidade em louco nervo

Voando no Arno no imanente empíreo.

Vadiar nos anéis arrebatados do coração

Ao som do sentimento o hino térreo,

Roçar nas coxas a alma transcendente

O aqui e agora de um império exato!

Escalar as cordilheiras verdadeiras da rocha

È um Bach tão certo quanto Jesus Cristo

O amor da beleza escolhe as formas fagueiras

Se eleva ao paraíso o coito dos sentidos.

Quanto a tí,necessidade,oh deusa suplicante,

Não és tu a ignorância do nobre pão?

A fome é o gume supremo da realidade

O desenfortunio a necessidade em branca nuvem.

Jungido estais em laço aterra indissolúvel

Oh matéria e espírito,duplo corcel de oboés,

Reverberai na forja dos sentidos ,oh alma,

Nau invisível a roçar o oceano do palpável.