Redoma

Se a noite que nos cerca está agitada e tempestuosa,

e aqui dentro, calma como uma ceia espirituosa,

és na certa porquê estou numa redoma,

alheio ao que se passa lá fora...

O tempo passa, arrastando suas unidades que nem trator:

os segundos, os minutos; viram registros passados escritos em um livro

que jamais será lido.

Se hoje, contente e tranquilo eu estou,

amanhã, as apreensões do dia me consumirão, deixando-me aflito...

A redoma serena cederá ao ungido citadino.

Por um momento, a redoma vira refúgio;

Por uma vida, vira fonte de alienação...

É como se a simples sucessão dos instantes determinasse

se o momento te faz mal, ou te torna são...

Como fugir de toda esta confusão, que assola a multidão?

Agimos, fazemos; mas nem sabemos o que estamos querendo...

choramos, lamentamos; quem sabe estivéssemos em outro canto...

pensamos, meditamos: podíamos assim, estar em outro recanto...

Lá fora, vidas brotam e outras se ceifam;

aqui, parece que tudo permanece o mesmo.

Não se sabe quando, um e outro somem deste quadro,

até que se encerre o ultimo ato;

deste drama enfim selado...