O Pombo
Havia um pombo caído na via, morto,
Atropelado na Rua Dom Fernando, torto, desmazelado,
Havia vida voando em demasia e a via atropelou em curva o seu destino;
Temos pressa, não temos compaixão,
Temos carros, não temos coração;
Havia um indivíduo no chão, não havia nada no céu,
Seu corpo estava plano e enxuto,
Sem asas, pois,
Um carro as pegou para si,
E outro indivíduo enxuto, vazio de qualquer caldo, qualquer soro ou mel,
Faz uso agora do seu céu;
Havia um pombo saído da vida porque havia um homem,
Que não soube fazer uso correto das suas asas como o fez o pombo,
Que, saído do céu encontrou um contraponto ao pousar no chão,
Tanto quanto esse indivíduo estirado ao calçadão,
O homem burlou suas próprias leis e sacou do chão o outro homem,
E elevou-o ao céu,
Elegeu-o mártir,
Dos pombos,
Graça,
De todos os carros,
Em vias de alçarem alados,
O céu dos pássaros.