DESABAFO

Porque o riso fácil abafa

O som da alma que chora

E como a vida fosse um circo,

O palco da realidade

Exige alegria e otimismo

Evitando viver num vale de lágrimas...

Afogo-me! Sufoco por dentro!

Ninguém vê senão o que é mostrado,

O mistério que me corrói

Nem eu conheço.

E toda vez que espio a alma

Sinto que sua tristeza não findou.

Grito 'socorro'!

Haverá uma só pessoa a perceber?

Tenho que ter lucidez para viver!

Mas as lágrimas que não choro

- senão por dentro -

Embaraçam minha razão...

Não fosse a fé

E eu estaria acabada!

Cadê aquele a quem confiaria a existência?

Ainda sinto tanta solidão!

Devo ser porto seguro enquanto afundo

Vejo a praia tão perto e não consigo chegar

Mãos se me estendem... pedem ajuda

Não me veem de socorro necessitar.

Não reclamo... talvez seja um desabafo

Para desafogar o coração que derreteu

Outrora enregelado, que hoje se banha

Nas correntes de sua antiga dureza.

Um dia alcançarei a cura

E então não mais serei

A densa e escura

Névoa que ainda sou.