ORAÇÃO DE UM CURRALEIRO TOCANTINENSE.

Pelas consciências acocoradas Tocantins adentro,

Pela educação “espetaculosa”, que não Liberta,

Pelo Cantar acorrentado de muita gente,

Senhor, tende piedade de nós!

Pela saúde diabética, para além de mil,

Pela farra retórica que nada explica,

Pelas cloacas-hospital onde afogam miseráveis,

Senhor, tende piedade de nós!

Pela justiça que finge não ver,

Pelos homens e mulheres escravos,

Pelos machados que lascam vidas,

Senhor, tende piedade de nós!

Pelos silêncios de quem se julga indignado,

Pelo charme velhaco das aparências,

Pelos barulhos cínicos dos interesses rasteiros,

Senhor, tende piedade de nós!

Pelas mãos invisíveis das politicalharias,

Pela aceitação estúpida de que “isso é natural”,

Pela morte da Ética, da Moral e da Vergonha,

Senhor, tende piedade de nós!

Pelas crianças perdidas como se fossem produtos,

Pelos velhinhos abonados, como algo descartável,

Pelos excluídos de todo gênero,

Senhor, tende piedade de nós!

Pela cultura que coisifica, humilha e apequena,

Pela arte que não passa de “arteritite”,

Pela “lixeratura” travestida de Literatura,

Senhor, tende piedade de nós!

Pelas gorduras que emagrecem a crítica,

Pelos fiscais da Razão, da Lógica, do Saber,

Pelos supermercados da mesmice,

Senhor, tende piedade de nós!

Pelas saídas triunfantes, milagreiras,

Pelos porta-vozes da iluminação,

Pelas únicas inteligências esclarecedoras,

Senhor, tende piedade de nós!

Pela comunicação mascarada, fetichizada,

Pelos analfabetos funcionais,

Pelos zeros da leitura, da interpretação,

Senhor, tende piedade de nós!

Pelas contas bancárias de tantos bispos morais,

Pela caridade franciscana de alguns políticos,

Pelas “tempestades” no meio-ambiente,

Senhor, tende piedade de nós!

Pelas palmeiras de nossa terra,

Pelos lagos forjados em nossos rios,

Pelas aves que não mais gorjeiam,

Senhor, tende piedade de nós!

E agora, Senhor, vos peço o seguinte:

Dai-nos Coragem e Esperança,

Principalmente, Esperança, Senhor!