Mulher
Eu sei de cor
que as mulheres são como fagulhas
que ora brilham ora somem de suas vistas
seres dotados de poder
sobre uma raça que nunca foi a sua
usando de uma fraqueza que nunca lhe foi imputada
pela vida
frágeis como cristais em caçambas de sem-teto
imperdoáveis como as punhaladas do destino
e irresistíveis como uma tarde de outono
diga-se que se o ser se torna uma fagulha
ele renasce de uma tormenta intransponível
de talvez uma criatura invisível
ou qualquer coisa que verdadeiramente lhe corroa o ventre
ao som de revolucionários e anarquias
desprendido de ganancia e amor sincero como a limpidez da agua de montanha
mulheres são inimagináveis
sem guarida por um dos lados
escudos invisíveis por outro
labirintos que confundem no seu todo
mulheres são incríveis
força sem medida escorada
por sorrisos sinceros
gestos entalhados em pranto incontido
magnetismo disfarçado em intenções mal resolvidas
merecem sem dúvida um olhar mais apurado
um sonho melhor sentido
um respeito nunca antes visto
assim deve-se o tratamento de um cavalheiro a uma mulher
que lhe preenche o vazio existencial,inseparável
de uma existência lacrada em si mesmo
de efêmeras paisagens sem constância
e apenas fagramentos mórbidos embutidos na lembrança
mulheres são tudo,são o nada em vestido,a contradição em estado de graça
que seria de um mundo sem essas fagulhas
de desejo,até de esperança
encarnadas na figura massacrante,ininteligivel da mulher
em todas as suas formas
em matéria,tato e pensamento.