JUDITH

Judith, mulher velhinha,

que há muito tempo aqui não vinha,

trazia salgados e docinhos,

todos sempre novinhos,

trazia também suas estórias

superstições e crendices...

Judith, ah, quanto tempo não via,

velhinha animada, rizonha,

não foi muito amada,

mas, também, nem aí estava

para esta conversa de amor,

dez filhos, tinha Judith,

trinta netos, seis bisnetos, acredite,

vida comprida e cumprida a de Judith,

todos criados com farinha de pão, coalhada

e rapa-dura,

lindos, negros, dentes brancos, peles firmes

cabelos crespos...

lindas estórias, porém outras tristes,

dois filhos perdera, a velha Judith,

mas, o sorriso? este seu companheiro ,

sempre que se via Judith,

de longe observava-se o branco dos olhos,

e os dentes que davam gosto...

que saudade de Judith,

tão velhinha, mãos enrugadas,

rosto com estórias vistas a olho nú,

mãos, calejadas da labuta lá na roça,

Judith quando moça, era linda,

vi sua foto,

negra, grande, magra, cabelos compridos

crespos enrolados,

há estória de namorados,

que disputavam Judith...

será que Judith se foi para sempre?

nunca mais, ouvi dizer de Judith,

que saudade, do biscoito quebra-quebra,

do pão de queijo quentinho,

da broa de fubá de Judith,

é... Judith para mim

foi um mito, a mais linda de todas as

mulheres que já vi,

forte, nunca gripou,

vivia dos remédios da roça,

dos chazinhos e rapas de angu,

química?que nada dizia Judith

quero morrer bem velha,

se puder sem câncer, sem dor,

sem doenças pegas por aí,

talvez, vindas destes remédios,

não, prefiro meu chá da roça,

se gripo é erva cidreira,

se maxuco é espinheira santa,

se enfraqueço é guaraná natural,

no parto, é canja de galinha,

ganho menino hoje, e amanhã

estou roçando, é assim mesmo

sou Judith, acredite, mulher de verdade,

batom? pra quê? com esta boca grossa

não preciso mostrar mais nada,

decote? meus seios são fartos,

e posso dizer, estão firmes e bem guardados,

ah, Judith, velhinha boa de prosa,

que saudade me veio agora...

será que a Judith, se foi sem se despedir de mim?

Não acredito, Judith era forte demais,

e se estivesse capengando, mandaria

um da turma, para me dizer que danou-se,

será?

se Judith, morreu...

Francamente, para mim, morreu a literatura

que o mundo jamais conheceu,

MINHA QUERIDA JUDITH,

MINHA LENDA, MEU MITO,

E SÓ SAUDADE...

Del Dias
Enviado por Del Dias em 24/09/2008
Código do texto: T1194759
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